Eu sou assim
Hoje acordei diferente, aliás não dormi bem, rebolei, mudei de posição, tentei até ir ao banheiro, mas nada me deixava em paz, tive um “insight”, era meu aniversário. Somos fruto de uma cultura capitalista em que aniversário é alegria, celebração, presente, mas eu não, gosto muito de tudo isso, mas penso que o passar de ano em minha vida é celebrar a morte. Talvez, a noite, eu estivesse pensando em estar numa daquelas estreitas ruas de Laguna no México, me sentindo mórbido o bastante para celebrar o dia dos mortos, até porque hoje, morre uma parte de mim.
É duro demais ter que voltar, me cansa só de pensar, o quanto que já passei, caí, engatinhei, mamei, chorei, ainda choro, sua aquela mesma criança que saía já vermelha do ventre, com vergonha de multidão, sou o mesmo adolescente que tenta de tudo para arrancar um sorriso preso, faço força, malabarismo, sou amigo, as vezes consigo, vou ao delírio, não posso ouvir um: “Fica Melo, fica Biel”, me arrepio, amo demais tudo isso.
Maravilha, finalmente saio do suplício que me afligia, acordo, com beijos, abraços, músicas de Parabéns e cartas, tudo que eu precisava, chorei, como uma criança que nada morreu ainda, lágrimas rolaram, e lavaram minha alma, como um bálsamo reconfortante. Lendo cartas de meus amigos caí na real, estou vivo, deve ser esse o motivo de comemorar o aniversário, uma parte minha morre, deixando quem sabe uma bela borboleta, pregada no casulo seco, grudado em árvore chamada Vida.
Deixo meus 16 anos como quem viveu demais, aprendi, chorei, ri, fiz rir, emocionei e fui emocionado, isso é que é vida! Perguntei por um segundo a Deus porque me sentira tão aflito durante o sono, deveria ser minha troca de pele, aquele momento em que realmente cresço, deixo de ser um Peter Pan, sou jogado para a vida, e Deus na sua mais simples e tortuosa maneira me fez chorar, cartas que eu era acostumado a escrever foram escritas para mim, se ontem fiz rir, hoje rio demais, escrevo nesse pedaço de papel uma angústia minha.
Saio dos 16 de cabeça erguida, sem ser um clichê, somente mais um, saio sendo eu, Gabriel, melhorado, borboleta formada pronta para entrar num novo casulo, reconfortante, isolado de maldades, repleto de amizades, que me fortalecem a cada dia, me ensinando que hoje chorei sim, ao lembrar de como sou feliz, esse era meu penar, não cabia em mim tanta felicidade, pedi perdão a Deus, chorei por ser amado demais.
Gabriel Amorim 15/06/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/