Um museu para Camaragibe
Um povo forte é aquele que sabe preservar a sua história, seus mitos, seus costumes, heróis, lendas, imagens e sons. Camaragibe nunca possuiu o seu. Esta ausência contribui com a destruição paulatina e deliberada de nossa identidade e nos coloca no imaginário de alguns imbecis desinformados que somos apenas um bairro de Recife. Pois a megalópole devora tudo mesmo na sua voracidade irrefreável. Inclusive a força motriz de trabalhadores que trabalham na cidade vizinha e apenas vem dormir na terrinha e alguns nem se inteiram dos fatos e acontecimentos por puro desinteresse mesmo.
O prefeito anterior, João Lemos, que já ganhou o título de Prefeito Inimigo da Cultura, nos últimos suspiros de sua gestão desastrosa, inaugurou um espaço equivalente, como tentativa de se redimir com o povo e tentar desmerecer o título divulgado e entregue impresso em um certificado de Papel Couchê. Mas, quando o político está sem prestígio e sem força não vai pra canto nenhum e não faz nada que preste. O que ele fez? Tirou os funcionários da então inativa Fundação de Cultura colocou-os numa casa alugada logo à frente, jogou uma tinta azul no espaço onde ela funcionava anteriormente, denominada de República dos Solteiros, lugar onde os antigos funcionários da Fábrica da Braspérola dormiam, e fundou o Centro de Documentações.
Empolgado com o feito, e pensando que o gestor tinha feito realmente um serviço que prestasse, fui visitar no dia da inauguração. Mas que nada. Só zoada e balela. Entrei dentro e constatei que além do espaço ser muito pequeno para poder representar a grandiosidade histórica da população de Camaragibe, o cara só fez o Migué, como se diz na linguagem popular. Um engodo, lá dentro havia uns dois banners que fizeram de umas fotos antigas, um ferro de passar à brasa, uma máquina de tear, mais três ou quatro bugigangas e só. O nome do espaço até que acertaram. Centro de Documentação Carlos Alberto de Menezes. Este cidadão, graças ao seu talento pessoal e poder de mobilização criou a fábrica, o bairro da vila, e ajudou a construir uma futura cidade no final do Século XIX.
Dali pra cá, mas nada sei. Aliás, minto eu, soube que um senhor muito interessado no assunto assumiria o espaço. Ótimo. O senhor muito distinto reconhecido por Borba, que sabe de cor e salteado muitas estórias e histórias de Camaragibe e que teria até um livro pronto sobre o assunto, faltando o devido apoio para sua publicação. No entanto, falta uma mobilização municipal, estadual e por que não nacional para a criação de fato deste espaço. Quanto de história já se perdeu por causa do desleixo das autoridades e do povo que não clamou por este equipamento? Quantas fotos, máquinas, indumentárias foram pro lixo e pros esgotos mal cheirosos da cidade, por falta de um encaminhamento digno para sua preservação e mostra para futuras gerações?
Outra pessoa que investiga a história da cidade e vale a pena se registrar é um jovem de nome Rubemar Graciano, que foi o criador do primeiro site local, ora chamado de Camaragibe Online e atualmente movimenta outro de nome Icamaragibe. Ele é também apaixonado pelo assunto e possui várias fotos e vídeos arquivados e vez por outra os divulga para o público em geral. Mas, sempre o fez de forma voluntária, não recebendo nenhum apoio ou remuneração para realização do trabalho.
Qual a moral da história? Não conseguimos até o presente momento mobilizar a população e sensibilizar os gestores para a devida importância e discussão dos temas que englobam a Educação Museal e Patrimonial. O envolvimento de todos é importantíssimo, pois ninguém faz história sozinho. Camaragibe já merece um museu grande, belo e digno de seu povo.