Ela me deixou...
Ela me deixou. Sem dó nem piedade, sem explicações, sem recado na geladeira, sem bilhete algum, sem um adeus a altura do nosso pequeno infinito juntos.
Ela me deixou, mas largou o perfume no travesseiro, algumas roupas penduradas, fotografias antigas, uma luz acesa.
Ela me deixou. Assim sozinho, da forma mais cruel. Sem café, sem livros, sem bom dia e boa noite, sem seu amor.
Ela me deixou, e talvez seja por isso que sento ao lado do telefone esperando impaciente alguma ligação que quebre esse silêncio.
Ela me deixou e eu não tenho com quem comentar sobre o clima ou sobre aquela manchete do jornal que li e achei periclitante.
Ela me deixou. Mas esqueceu pedaços do nosso passado espalhados pela casa, como forma de tortura, ou talvez, só um mero engano.
Ela me deixou, e até a estação de rádio denuncia minha saudade com aquela música cuja melodia ela adorava.
Ela me deixou, embora permaneça em casa detalhe, bebida, talher, espelho, lençol, poltrona, aroma. E tudo a minha volta não tem a mesma cara, cor, alegria porque...
Ela me deixou!