Ela me deixou...

Ela me deixou. Sem dó nem piedade, sem explicações, sem recado na geladeira, sem bilhete algum, sem um adeus a altura do nosso pequeno infinito juntos.

Ela me deixou, mas largou o perfume no travesseiro, algumas roupas penduradas, fotografias antigas, uma luz acesa.

Ela me deixou. Assim sozinho, da forma mais cruel. Sem café, sem livros, sem bom dia e boa noite, sem seu amor.

Ela me deixou, e talvez seja por isso que sento ao lado do telefone esperando impaciente alguma ligação que quebre esse silêncio.

Ela me deixou e eu não tenho com quem comentar sobre o clima ou sobre aquela manchete do jornal que li e achei periclitante.

Ela me deixou. Mas esqueceu pedaços do nosso passado espalhados pela casa, como forma de tortura, ou talvez, só um mero engano.

Ela me deixou, e até a estação de rádio denuncia minha saudade com aquela música cuja melodia ela adorava.

Ela me deixou, embora permaneça em casa detalhe, bebida, talher, espelho, lençol, poltrona, aroma. E tudo a minha volta não tem a mesma cara, cor, alegria porque...

Ela me deixou!

Laize Marinho
Enviado por Laize Marinho em 29/09/2013
Código do texto: T4503757
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