VALE A PENA RECORDAR

VALE A PENA RECORDAR

“A vida não é a que a gente viveu e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la.” (Gabriel Garcia Marques).

Desde criança, ouvimos palavras e expressões usadas por nossos pais, avós, tios, amigos e, mesmo com a formação escolar, fica registrado em nossa mente e passamos a usá-las também, até que um dia, nos damos conta que o tempo passou; a ciência e a tecnologia evoluíram, enfim, o mundo mudou.

Aí percebemos que esses termos e expressões ficaram obsoletos, saíram de moda e hoje, ao pronunciarmos ainda alguns desses termos ou expressões, damos motivos aos nossos filhos, sobrinhos e amigos mais novos, acharem graça, “fazerem chacota”, criticarem e até perguntarem o significado daquele “palavrão’ que pronunciamos”.

Relembro aqui alguns desses termos ou expressões, de uso frequente nas décadas de 40 a 70, em especial em Salvador, na Bahia, terra onde nasci.

Não se trata de nenhuma ideia original. Outras pessoas já escreveram sobre o assunto, inclusive jornalistas e escritores renomados já editaram livros, abordando também o que ouviu e aprendeu, ao longo de sua vida.

A minha pretensão não chega até a edição de um livro, mas sim de brincar com os nossos familiares e amigos que passaram por essa época e aqueles que chegaram depois vão se divertir ao conhecerem o cotidiano dos nascidos em outros tempos.

E vamos às lembranças:

As roupas eram passadas com ferro a carvão, o ferro de engomar, pois nem sempre havia luz elétrica, muito menos ferro elétrico. Este ferro tinha um espaço por dentro para por brasas. Fechava-se a tampa do ferro e o seu calor permitia engomar a roupa. No fundo do ferro havia um buraco que servia para soprar ou abanar a brasa contida dentro, para reascendê-las, mas corria-se o risco de espalhar fagulhas da brasa em cima da roupa e sujá-la Quando as brasas não serviam mais, tinha-se que colocar novas brasas. Na década de sessenta, pelo menos em nossa casa já se começou a usar o ferro elétrico. Não é difícil imaginar as facilidades e comodidades que o ferro elétrico trouxe às nossas vidas.

Os refrigerantes eram chamados de “gasosa”. Muito apreciada era a Gasosa de limão. E o Crush? Gasosa com sabor de laranja. Gostosa demais... Grapette, com sabor de uva. Até hoje me lembro da propaganda – “Quem bebe Grapette, repete”. Não podemos esquecer-nos do Guaraná Fratelli Vita, empresa instalada em Salvador no século XIX, por dois irmãos italianos que produziu também refrigerantes com sabores de cereja, limão, maçã e pera.

As músicas gravadas eram em “long plays” (discos de vinil), tocadas em uma radiola ou eletrola a, hoje, com a tecnologia existem inúmeros aparelhos de som, os mais sofisticados. Tivemos um móvel com duas prateleiras. Na parte superior uma radiola. Na parte inferior um grande rádio Na prateleira inferior do móvel, ficava instalado um grande rádio pelo qual se podiam ouvir as rádios locais, a exemplo das Rádios Sociedade, Rádio Excelsior, Rádio Cultura e algumas do Rio de Janeiro como a Rádio Nacional, esta a preferida do meu pai para ouvir os programas “A Hora do Brasil”; naquele tempo era este o nome hoje, A Voz do Brasil e o “Repórter Esso”, que divulgava as noticias do mundo inteiro. Lembro-me que nesse momento, quem ficasse perto dele teria que ficar calado, para que ele pudesse ouvir bem, uma vez que o som, ora era ouvido bem, ora sumia, de acordo com a frequência captada naquele momento. ““ Após esse período, minha mãe e irmãs mais velhas aguardavam ansiosas por mais um capítulo da novela” (pelo rádio, é claro), uma delas de sucesso absoluto chamada” O Direito de Nascer”.

Os “galupins” (um tipo de tênis) brancos eram limpos com “alvaiade” um pó branco que depois de seco saia soltando por onde pisava... Aos poucos foram sendo substituída pelas “congas”, Alpargatas Sete vidas, em várias cores e tamanhos para crianças e adultos. Eram vendidas numa caixa de papelão com a figura de um gatinho sorridente e os dizeres: “Use Alpargatas Sete Vidas – dura sete vezes mais”. Eram o “tênis“ da minha época, muito usado para passeios que pediam trajes informais e esportivos.

Outro tipo também muito usado, principalmente pelas escolas era o “Kichute”, muito resistentes aos chutes e tropeços da criançada.

O termo “MARINETE é um regionalismo dos Estados da Bahia e Sergipe, usado nas décadas de 50 a 60 para identificar os primeiros ônibus que surgiram nesses estados”. Tinha um estilo jardineira, aberto nas laterais, assemelhando-se aos “bondes”.

Hoje, como atração turística, ainda é possível se ver “A MARINETE DO FORRÓ” que circula pelos pontos principais de Aracaju, durante o Forró Caju, com saída de um Hotel da Orla, passando por outros hotéis, recolhendo aqueles turistas que se dispõem a participar da folia, animados por um trio de pé-de-serra.

A enceradeira não faz mais parte dos eletrodomésticos de uma casa, que dirá o famoso “ESCOVÃO”. ´E possível que as pessoas mais jovens que eu nunca tenham ouvido falar nesta coisa Como o próprio nome indica, consistia em uma grande escova com uma armação de ferro pesada, com cabo longo igual ao de uma vassoura. Com um pano de lã bem grosso embaixo do escovão, passava-se “mil vezes” para brilhar o chão da casa, podendo ser no chão cimentado, ladrilhado e os mais sofisticados, naquela época, de madeira, em tiras largas ou em forma de tacos. A cera da moda de nome Parquetina era passada em todo o espaço a ser lustrado. Detalhe: ficava-se agachada ao chão, passando a pasta. Como sempre fui uma negação na culinária, na casa de meus pais, quando ficávamos sem a doméstica, cabia a mim a árdua tarefa de brilhar a casa toda Só o corredor existente, talvez fosse maior que certos apartamentos de quarto e sala. E esta tarefa não era a pior. Antes dela, teria que se passar a cera em pasta. Dureza total! Nem é bom pensar no retorno àqueles tempos.

Quem tem menos de 30 ou 40 anos nunca ouviu a esdruxula palavra mata-borrão. Era um objeto grande, de madeira, em forma de cadeira de balanço. Era pesado e ocupava um considerável espaço na pasta (a antecessora da mochila de hoje) Na parte de baixo ficava o papel borrão grosso, que sugava o excesso da tinta. Escrevia-se uma linha e passava o mata-borrão para enxugar o que se havia escrito. Quando o papel já estava bastante sujo, havia um botão na parte de cima; desatarraxava-se este botão para substituir o papel borrão.

O objeto em questão não evoluiu. Viveu enquanto foi preciso. Não teve substituto. Só quem viveu nessa época tem ideia da importância na vida do estudante, do funcionário, do escritor!

Todos nós achamos cafona e fazemos piada sobre o adereço de louça o Pinguim em cima da geladeira, mas, se refletirmos um pouco, chegaremos à conclusão que faz sentido colocar um pinguim em cima de uma geladeira: ele é um animal que representa o frio e a geladeira uma máquina que gera frio. E ficava tão engraçadinho!

Aprendíamos a escrever, inicialmente, com o lápis. Se a ponta deste lápis quebrava, descascávamos o lápis com um canivete ou com uma “Gillette” (marca de uma lâmina de barbear ainda existente). Quando já estávamos nas séries mais adiantadas passávamos a usar a “caneta-tinteiro.”. Essas canetas continham uma pena na sua extremidade e um reservatório recarregável de tinta, à base de água, especialmente a nanquim, nas cores preta e azul escuro. Quando o reservatório secava, fazíamos a reposição, enchendo-o num recipiente chamado de tinteiro, com a tinta” Super Quink.” As canetas mais chiques eram da marca Parker, modelo 51. As mais baratas eram a de marca” Compacto.” Para encher a caneta era preciso introduzi-la dentro do tinteiro e dar umas três a quatro bombadinhas. Limpávamos a caneta com “o mata-borrão” e já se podia começar a escrever. Simples, não é mesmo?

LAMBE-LAMBE – antigamente em alguns documentos, exigia-se, em cima da foto a data em que a mesma foi tirada. Costumava-se fazer um minúsculo pedacinho de papel fotográfico, negativo, constando a data. Para fazer a colagem o fotógrafo passava a língua na plaquinha para molhá-la e aderir á fotografia, daí o nome dado à máquina.

As mulheres quando queriam cachear os cabelos ou mesmo alisar, usavam os chamados “papelotes” que eram uma espécie de charutinhos de papel em que se enrolavam os cabelos.

Com a evolução dos tempos, surgiram os “bobs”, pequenos rolos de plástico, com furinhos ao redor onde se enrolavam em mecha por mecha do cabelo, prendidos com um grampo próprio, também conhecido aqui em Salvador, por “miss”, que era a marca do grampo. Esses rolinhos permaneciam nos cabelos por um longo tempo. Algumas mulheres até se submetiam a uma noite mal dormida, pois os deixavam na cabeça a noite toda, e pior, muitas delas ainda submetiam o marido a ter ao lado dele, na cama, essa figura tétrica. Que tesão resistia a esse quadro?

Os “famosos bobs” ainda existem. Não só as mulheres resistem às novas tecnologias surgidas para cachear ou alisar os cabelos, como vários Salões de Beleza não abrem mão deste recurso. É interessante citar aqui que a cidade de Conceição do Coité, na Bahia, já foi assunto de reportagem em rede nacional, pelo costume do uso dos “Bobs”, não somente pelos Salões de Beleza como pelo fato de as mulheres coiteenses, transitarem pelas ruas, nas lojas, na feira, com “os bobs” na cabeça, com a maior naturalidade. Faz parte da cultura da cidade.

Aqui em Salvador e em outras cidades do país, até a década de 60 haviam as praças de carros para alugar (não no sentido de alugar para que o próprio locatário saísse dirigindo como hoje); através de telefones instalados próximos ao ponto de parada dos carros, aguardavam a chamada de algum usuário para fazer uma corrida. Pelo telefone, era acertado entre o “chouffeuer” e” passageiro” o preço da corrida, de acordo com o percurso. Havia até uma tabela para a corrida certa, tipo ponto a ponto. Para viagens mais distantes fazia-se um contrato específico. Lembro-me, que pelo telefone, dizia-se o número de passageiros para ver que tipo de carro faria a corrida. Quando se pedia um carro para um casamento, por exemplo, o referido carro era grande, em estado de conservação muito boa e vinha com uma franja branca, adornando a parte superior dos vidros dos carros. O ‘chouffeur” vinha trajado adequadamente para a ocasião.

A partir do final da década de 60 e inicio de 70, os carros de praça foram sendo substituídos pelos táxis, que é um neologismo advindo do inglês “taximeter”, aparelho que registra o preço que se deve pagar, pelo percurso efetuado. (Do verbo inglês “to táxi”, que significa andar de táxi).

As casas de classe média tinham sempre arquitetura semelhante; eram compridas, tinham na frente uma sala de visitas (aberta apenas quando alguém vinha nos visitar), um longo corredor, tendo em um dos lados, as portas que davam acesso aos quartos (em geral, sem janelas, pois as casas eram coladas a outras casas). Para clarear um pouco, havia acima da porta uma parte gradeada, fechada por vidros, chamada “-bandeira”, depois dos quartos vinha a sala das refeições, a copa, a cozinha, a salinha de costura, a despensa, as dependências de empregada e, só lá nos fundos, finalmente, um banheiro chamado de “quartinho” que servia a toda a família. Isso, quando o “o quartinho” não ficava no quintal da casa, que para chegar até ele, tomava- se chuva ou sol.

Por isso, naquela época usava-se “o penico ou urinol.” Para quem nunca viu, o penico era um recipiente com alça, tipo uma xícara gigante, que ficava embaixo da cama e servia para se fazer xixi no meio da noite, sem precisar atravessar a casa inteira para se chegar ao “quartinho”.

Havia vários tipos de penico: os mais sofisticados eram de louça, bem trabalhada; os mais comuns eram de um material esmaltado e, posteriormente surgiram uns mais simples e mais baratos feitos de plástico, encontrados em qualquer armazém da esquina.

Felizmente, com a evolução dos tempos, os arquitetos criaram os banheiros mais próximos dos quartos e hoje, alguns transformados em suítes, com os seus banheiros conjugados. Isso fez com que os penicos fossem definitivamente aposentados. Isto é, várias pessoas idosas, até hoje não conseguiram deixar o hábito de ter um penico embaixo da cama.

Lembro-me, não faz muito tempo, meu sogro, vinha do interior fazer algum exame aqui na capital e ficava em nossa casa. Na primeira vez que veio, fiquei em apuros. Ele pediu-me um penico e em nossa casa não tinha. Pensei um pouco e, para solucionar o problema peguei um balde e coloquei ao lado da cama. Estava resolvida a questão!

Na década de 40, as famílias de classe média, como a nossa, nem sempre tinha uma geladeira, mesmo aqui em Salvador, já com luz elétrica, era um eletrodoméstico relativamente caro.

A água de beber era colocada em recipientes de barro, com formato semelhante a uma garrafa, que mantinha a água fria e este vasilhame era chamado de “moringa”.

Na verdade “a moringa” é uma planta que tem origem no norte da Índia. O pó da semente serve como coagulante para clarear a água barrenta, espécie de tratamento usado para purificar a água. Talvez, daí venha o termo dado ao vasilhame para colocar água.

A partir da década de 50, surgiram os “filtros de barro” (ainda encontrados). Compostos de duas peças, sendo que em uma se coloca duas velas de cerâmica, para proporcionar a filtragem da água e a outra parte é o reservatório da água. Aos poucos a água vai pingando, enchendo o compartimento de baixo e através de uma torneira se retirar a água para beber a água purificada.

Nos meus tempos de estudante, até a faculdade, era muito comum apresentar um trabalho ao professor escrito à mão (naquele tempo, até que o professor não sofria tanto para ler o trabalho, pois todos os alunos tinham passado pela fase de aprender a caligrafia, ou seja, escrever de forma legível e correta).

Lembro-me que todo jovem para ingressar no mercado de trabalho, teria que tomar aulas de datilografia. Nos concursos públicos para técnico administrativo, era um quesito classificatório e eliminatório para o seu resultado final. Existiam várias escolas especializadas no assunto e livros para aqueles que queriam aprender por conta própria, como foi o meu caso. Aproveitando um período de férias da faculdade, comprei um livro: “Aprenda Datilografia sem Mestre”, meti as caras e comecei “a catar milho”, expressão usada para os iniciantes. Como não estava me candidatando a nenhum concurso, o que aprendi serviu para fazer os meus trabalhos datilografados, para entregar aos mestres. A “máquina de datilografia” era manual e lenta; depois surgiram as máquinas elétricas, mais rápidas e mais precisas; mesmo assim, cada linha escrita de forma errada significava começar tudo de novo, no que resultava em perda de tempo e muito gasto de papel.” Dizia um diretor de empresa que se conhecia o bom datilógrafo pela lixeira que ficava ao seu lado- muito papel amassado- sinal de não saber datilografia.” Para fazer a cópia de um texto, usava-se uma folha de papel carbono, entre duas folhas de papel próprio para máquina, a fim de se obter a cópia. Hoje temos os computadores e as impressoras fazendo esse papel.

.Não sei se era um costume apenas de nossa cidade – Salvador: “O Baleiro” que era um vendedor de balas, chocolates, pirulitos, chiclete, etc., (sempre do sexo masculino). Ele transportava a mercadoria numa cesta de palha ou em um tabuleiro, preso a uma alça de borracha, que ele usava a tiracolo e passava pelas ruas mercando: “Olha o baleiro”- “chegou o baleiro”, trazendo, também traspassado ao peito uma pequena bolsa, carregando as moedas que ia arrecadando com a vendagem e servindo também para dar o troco de outras vendagens. Este “baleiro” era muito esperado pelas crianças. No bairro onde eu morava, as casas eram simples, com janelas que davam para a rua, ficávamos atentas à passagem do encantado mundo dos doces.

Até a década de 60, o telefone era privilégio de poucos, pelo menos onde morávamos. No meu tempo de criança os aparelhos eram sempre do mesmo modelo, na cor preta, com um disco, contendo os números. Para se fazer uma ligação, costumava-se ficar em média uns 30 minutos, aguardando um ruído, dando sinal de linha para se discar o número desejado. Em compensação, as ligações não eram computadas por impulsos, podendo-se falar à vontade, pois no final do mês o valor a ser pago era sempre o mesmo. O desenvolvimento traz vantagens e desvantagens!

E o nosso vestuário... Que diferença!

Para começar, as fraldas eram de pano, a principio, feitas em casa, com tecidos macios, sempre brancas e todas iguais. Também eram feitas em casa: lençóis, fronhas, calcinhas, (calçolas como eram chamadas) toalhas higiênicas (correspondentes aos absorventes).

As roupas femininas eram confeccionadas pelas “modistas”. Aqui em Salvador, as poucas boutiques que existiam não eram acessíveis á classe média. As roupas masculinas também eram confeccionadas pelos alfaiates, que da mesma forma que as modistas foram substituídos pelos estilistas.

O homem moderno daquela época tinha que ter, pelo menos, uma Camisa Volta Ao Mundo, aquela que não amarrotava por ser de um tecido sintético e assim não precisava do ferro de engomar. Ele vestia e estava sempre impecável!

Já as mulheres vibraram com a chegada do Conjunto de Banlon e a Blusa de Bouclê, em diversas cores e tons, que tínhamos vontade de comprar uma de cada cor. Completava o traje de passeio para as idas à matinée, a saia de plissé soleil Aí todos ficaram convencidos de que estavam dando adeus á tábua de passar roupa, ao ferro de engomar e à passadeira, pois nada disso amarrotava!

Sair sem anágua, camisa interna ou corpete? Nem pensar. As mulheres que deixassem alguma parte do corpo transparente eram consideradas vulgares...

Naquele tempo, até completarem 15 anos, as adolescentes não podiam: usar batom, calçar sapatos de salto, depilar pernas e axilas (que horror!) e, ao usar um vestido de festa, a saia era bem rodada, comprimento até o meio da perna, e as famosas mangas bufantes lembrando que o tecido do vestido, geralmente, era de organdi- tecido que espetava mais que um alfinete...

Os cuidados com a aparência e beleza, que sufoco...

O banho quando havia chuveiro era um luxo; caso contrário tínhamos que nos contentar com o tradicional banho de balde ou de bacia e com água fria...

Os cabelos eram lavados com o mesmo sabão ou sabonete que se passava no corpo (na época, os mais conhecidos: Gessy, Lever, Eucalol, Vale Quanto Pesa e O Trio maravilhoso Regina- sabonete, talco e água de colônia).

Os homens, para ficar com o cabelo bem grudado na cabeça (moda da época), usavam brilhantina Glostora, a mais conhecida do nosso tempo.

As mulheres, quando queriam ficar com a pele rosada, usavam “Pó de Arroz”, compacto, (de marca Cashmere Bouquet) e Rouge (o atual blush), palavra de origem francesa que significa vermelho encarnado, rubro...

A lavanda Rastro - até hoje sinto o cheirinho dela...

Sair sem anágua, camisa interna ou corpete? Nem pensar. As mulheres que deixassem alguma parte do corpo transparente eram consideradas vulgares...

Naquele tempo, até completarem 15 anos, as adolescentes não podiam: usar batom, calçar sapatos de salto, depilar pernas e axilas (que horror!) e, ao usar um vestido de festa, a saia era bem rodada, comprimento até o meio da perna, e as famosas mangas bufantes lembrando que o tecido do vestido, geralmente, era de organdi- tecido que espetava mais que um alfinete...

Quando a saúde ficava comprometida...

Caiu? Machucou-se? Rapidamente surgiam os primeiros socorros: Pomada Mandrágora, Violeta Genciana, Mercúrio Cromo, Mertiolate vermelho ou Iodo para cuidar dos machucados...

Comeu demais? Deu dor de barriga? Aparecia o famoso Enteroviofórmio, aqueles comprimidinhos marrons!

Criança para crescer, ficar inteligente tinha que tomar Emulsão de Scott. Era uma tortura encarar... Na hora do almoço, em cima da mesa, lá estava o vidro de cor âmbar, tendo no rótulo um pescador, carregando nas costas um enorme bacalhau. Dentro do vidro, um líquido branco e pastoso de gosto amargo, que era preciso tapar o nariz para beber.

A farmacinha caseira ia também se “fortificando” com os remédios que não podiam faltar numa casa. Além de Emulsão de Scott, o Elixir Paregórico, Calcigenol (recomendado para o fortalecimento dos ossos), Pílulas de vida de Dr. Ross (“pequeninas, mas resolvem”!), Regulador Xavier - no 1, para a falta e no 2, para o excesso (“o controlador da saúde da mulher”), Biotônico Foutoura, Atroveran (só em gotas), Melhoral e tantos outros que não me recordo mais...

A televisão, a grande invenção. A TV era em branco e preto, até o dia em que alguém teve a ideia de colocar papel celofane visor: um tira vermelhão outra amarela, outro azul o que fazia de conta estar vendo em cores. O aparelho tinha apenas quatro botões, sendo que dois deles controlavam a imagem na vertical e na horizontal e eis que surgia o problema – a imagem ora rodava no vertical, ora na horizontal, em disparada e, se levava alguns minutos para conseguir regular; com isso, se perdia um gol, a melhor parte da novela, etc.. E, sabemos todos, que “Bombril tem mesmo mil utilidades”! Era de grande colocado nas pontas das antenas da TV e, de fato, a imagem melhorava.

Quem não já teve a sua cama forrada com uma Colcha de Chenile? Originadas da Turquia, essas colchas tinham de casal e solteiro, havia em todas cores, para todos os gostos. Tinham uns desenhos em alto-relevo e costumavam soltar um pouco os pelos, quando sacudidas no quintal, ou até mesmo na janela até para que os vizinhos soubessem que naquela casa existia a famosa colcha!

Será que você também tirou uma foto no colégio, fardado, é claro, sentado em frente a uma mesa com uma bandeira atrás (do Brasil, da Bahia ou do Colégio) e segurando uma caneta em cima de um livro que você nem conhecia?

Mesmo as pessoas de classe média, naquela época, podiam fazer a sua poupança, não mais debaixo dos colchões, nem dentro dos “porquinhos” (que estão de volta) e sim, nos bancos. Surgiu a Caderneta de Poupança ASPEB, que por conta da sua simbologia ter uma abelhinha, todos a chamavam de Poupança da Abelhinha. Até hoje tenho na lembrança o desenho da abelhinha...

Automóveis naquela época , já existiam, é claro, os modelos mais conhecidos eram: a Rural Willys, uma camionete, sempre pintada em duas cores, com tração nas quatro rodas e própria para enfrentar estradas de barro e lamacentas. O Aero Willys era um automóvel grande e confortável, não tão luxuoso como o Cadilac, apelidado de rabo de peixe, pelo avantajado fundo que tinha. E o Simca Chambord? A Vemaguet, o Gordini, o Studebaher, o Krysler e o Citroen (que abria a porta ao contrário e quando as mulheres saltavam tinham que ter cuidado para não dar nenhum “lance.

E a sandália japonesa? Hoje são as famosas sandálias havaianas!

Aqui em Salvador nunca fez frio muito forte, mas, a garotada, para acompanhar a moda do sul e sudeste do país, tinha que ter Uma Japona, de lã, botões dourados e uma âncora no meio de cada um. As moças e senhoras usavam o capote.

As Revistas da época... Não havia essa variedade de revistas que existe hoje. Das revistas que divulgavam os acontecimentos da semana, reportagens sobre personalidades, etc., a mais popular era a Revista O Cruzeiro, tendo uma charge tradicional – O Amigo da Onça – que aparecia sempre na última página da revista, onde ali caricaturava fatos pitorescos e pessoas famosas. As Revistas com Fotonovelas, em quadrinhos, faziam os adolescentes suspirarem com suas fotos e conteúdo. Outra revista mais seletiva e que até hoje existe é a Revista Seleções que publicava artigos e contos interessantes e culturais.

Os adolescentes curtiam mesmo era a Revista Gibi, com aventuras.

Os Programas de Rádio e de TV que ficaram na minha memória... “Balança, Mas Não Cai”, programa de rádio, humorístico, com os artistas Paulo Gracindo, interpretando “o primo rico” e Brandão Filho, fazendo “o primo pobre”...

Na TV, os que davam mais ibope eram dois programas de calouro: Programa do Chacrinha, que virou tema da música de Gilberto Gil – Aquele Abraço, quando ele diz- “O Velho Guerreiro balançando a pança e comandando a massa”. O programa Um Instante Maestro, tendo como apresentador Flávio Cavalcante.

A meninada não perdia o filme de aventura – O Vigilante Rodoviário.

E os festivais de calouros? Quantos cantores e compositores que se tornaram famosos surgiram desses festivais, Chico Buarque, compôs verdadeiros hinos da música brasileira, como- A Banda, interpretada por Nara Leão, A Praça, Vai Passar. Caetano Veloso apresentando-Alegria, Alegria, London, London, Soy Loco por ti, América... Gilberto Gil, com a sua maravilhosa – Roda Mundo; Milton Nascimento, com um sucesso que marcou a sua carreira – Coração de Estudante e dois grandes intérpretes nesses festivais: Jair Rodrigues, cantando Fio Maravilha e Wilson Simonal com a música- Mamãe Passou açúcar em Mim e tantos outros...

E os filmes mais badalados daquela época:

E o Vento Levou Candelabro Italiano, Dio Come Te Amo, Cantando na Chuva, todos esses do tipo romântico. Os bíblicos que me lembro eram – Ben Hur, Marcelinho Pão e Vinho e Os dez Mandamentos. A moçada vibrou muito com o filme Juventude Transviada, com James Dean, ator irreverente que a turma gostava de imitar as suas roupas, os seus gestos... E o filme Gata em Teto de Zinco Quente com a atriz Elizabeth Taylor, uma das mais belas da época. Também havia filmes de suspense, de autoria de Alfred Hitchcock a exemplo de Chicago, o único que tenho lembrança.

A criançada, naquela época, se divertia muito com a coleção de figurinhas. Nas bancas de revistas eram vendidos uns saquinhos contendo quatro a cinco figurinhas, que iam sendo coladas em um álbum, comprados à parte. Ás vezes, no mesmo saquinho vinham figurinhas repetidas, para a tristeza das crianças; essas coleções tinham um detalhe que estimulava a continuidade da coleção, – quem completasse o álbum ganhava um prêmio, que podia ser uma bicicleta, um boneca. Mas tinha outro detalhe que dificultava o término da coleção – havia a chamada figurinha difícil – e só com esta é que o álbum era considerado completo. Aí estava o lucro do empresário e o prejuízo dos pais!

Desde aquela época, o sonho de toda menina era ganhar uma boneca “Barbie”. Uma boneca completamente diferente das outras. Esbelta, elegante e vestida com roupas da moda.” Hoje a boneca “Barbie” ainda existe, já completou 5o anos e continua alimentando sonhos e brincadeiras de crianças em todo o mundo”. A cada ano surgem novos modelos e novos acessórios, complementando o seu guarda-roupa e até a sua casa inteira.

Bibliografia Consultada

• Grande Enciclopédia Delta Larousse, Ed Delta, R.J, 1973.

• Magnavita, Silvia Spinola – Ao longo do Tempo, Salvador- Ba, 1996.

• Villas, Alberto- O Mundo Acabou Ed. Globo, S.P, 2006.

• www.google.com.br

Em 12/09/2006

GSpínola

GSpinola
Enviado por GSpinola em 24/09/2013
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