Eu acreditava em milagres!
Acreditava tanto, que escrevi uma crônica admitindo a hipótese do voto contrário do Ministro Celso de Mello às pretensões dos réus condenados e apenados em última instância. Vã ilusão! Já a rasguei e dei-lhe o destino certo: o lixo!
Manietado por uma firula regimental, que visa o resguardo de réus comuns sobre os quais persiste alguma dúvida quanto à justeza das penas que lhes foram impostas, o Ministro Celso de Mello, acredito, não encontrou argumento para o voto contrário. Ou não quis!
Novo julgamento beneficiará os meliantes, sobre cuja maléfica atuação não há a menor dúvida, pois lhes dará tempo para encontrar mil maneiras de estender o julgamento "ad aeternum", até que a ansiosamente aguardada figura da prescrição acabe com tudo, zere a ficha de todos e os capacite a continuar cometendo as mesmas falcatruas.
O decano Ministro, evidentemente, sabe disso. Deve ter passado todos esses dias meditando, pesando, e aferindo as consequências que a sua decisão certamente provocará.
Ninguém tem dúvidas sobre a criminosa atuação da verdadeira quadrilha sobre cujas costas se amontoavam toneladas de provas irrefutáveis, gente que cometeu toda a sorte de iniquidades; corrupção ativa e passiva, malversação do dinheiro público, prática indecente de nepotismo, enriquecimento ilícito, fraude de eleições, licitações dirigidas, obras, serviços e aquisições superfaturadas e mais, e mais e mais...
E, neste exato momento, graças a um voto perfeccionista, certamente estarão degustando uma Veuve Clicquot bem gelada e rindo à bandeiras despregadas.
Não imagino o que sucederá a seguir, mas temo que não seja nada agradável. Também não descarto a hipótese contrária; nada vai ocorrer, pois, como se sabe, um traumatismo sério é seguido de total insensibilidade - como uma cavalar dose de anestésico.
Então, só apelo a Deus, para que, como brasileiro que é, se apiede de nós!
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