Manuscrito Filosófico de William Shakespeare da Silva (part. 4)
Reflexões, parte IV
Desajuste Social - Superioridade Às Massas
Nunca tive dúvidas de que vivi no meio errado. Claro, comecei a perceber isso com o tempo, pouco a pouco fui descobrindo que o meio em social em que estive sempre fora 'dos outros'.
Expondo dessa forma pode parecer que sou um desajustado por ser superior ou inferior àqueles que me cercavam. Afirmar algo dessa natureza seria presunçoso de minha parte. Sei que já fui superior a alguns e inferior a muitos outros; é instintivo, pois mesmo quando criança sabia que cada ser tem seu valor social, inerente à compreensão humana que há o superior e inferior, formando uma hierarquia quase infinita de indivíduos que ocupam diferentes posições nesse hanking.
Como não consigo explicar o porquê de não me enquadrar ao padrão que os outros seguiam, continuaremos em dúvida, mas isso realmente importa? Um indivíduo é diferente dos demais por uma série de fatores, dar um motivo seria um estudo complexo do meu ser. Estragaria o nosso raciocínio gastar tempo com isso.
Algo sempre gritou dentro de mim. Parece bobagem, pois sempre me imaginei vivendo em um lugar paralelo ao que me abrigava.
Mesmo os antigos amigos não passavam de colegas que conviviam no do dia a dia; os vizinhos eram indiferentes, aos quais nem sabia seus nomes; já na adolescência, os colegas de curso eram ainda mais frios; os estranhos pareciam me olhar de forma diferente, como se eu realmente estivesse perdido.
Passei a ficar mais fechado, retraído, além de sempre contrário à ideias coercitivas. Nunca fui de brigas (apesar de ter entrado em conflitos algumas vezes no passado), mas fui um simpatizante de ideais que divergiam das dos outros ou eram de alguma forma reacionárias.
Passei sem querer a defender as minorias, o que estava fora da linha de pensamento dos outros. Sempre para contrariá-los de alguma forma, para atingi-los e romper a base daquele meio social.
Pouco a pouco percebi que, mais do que pura imparcialidade, eu havia me tornado a minoria.
Basta ser um pouco diferente que as coisas mudam radicalmente. A superioridade de um medíocre como eu deve germinar dessa forma.
Se nunca fui realmente inteligente, nunca fui tolo do todo. E ninguém é 'realmente inteligente', é? Vi muitos pós-graduados que nunca trocaria os cérebros deles pelo meu de adolescente de ensino médio.
Percebam um elemento curioso que não mencionei ainda: Já que sou um desajustado de ideias reacionárias, minha comunicação é afetada. Portanto tenho poucos amigos e aqueles que comigo conviviam desprezavam-me, e eu a eles.
Seja ele diferente sempre há algum igual, pena que nunca conheci alguém assim.
Essa reflexão não tem como intuito desprezar as massas, costumes, leis, nada disso, nem mostrar que há seres excepcionalmente singulares, mas que desajustados, por assim dizer, tem uma linguagem própria, só compreendida por alguém próximo ou similar.
Com o tempo (nada como o velho tempo...), me tornei mais simples e assertivo. Inteligente, talvez. Sempre me considerei um protótipo rudimentar e falho do que enquadra um indivíduo inteligente, acho confuso como posso aparentar sabedoria sem ter alguma; aparentar boa prática em exercícios razoavelmente complexos quando tenho noções básicas; chegar a ser chamado de intelectual quando li tão poucos livros.
Por sorte, fui persuasivo o suficiente. Sisudez e calma me tornou um inteligente à vista dos outros.
Os que me desprezavam percebiam minha superioridade justamente aí: Julgavam-se, todos, inferiores academicamente.
Uma importante informação; uma das verdades ocultas. Tomemos o seguinte exemplo: Uma mulher, como pode ser classificada sua beleza? Melhor, como sabemos que ela é bela? Percebi que a aparência nem sempre preenche cem por cento do que consideramos belo. Uma mulher só é bela quando ela 'sabe' que é bonita. Tentarei ser mais claro: Somos bonitos quando acreditamos nisso, logo, somos aquilo que pensamos.
Só sou inteligente por inconscientemente agir de forma regrada, comedida, calmo em momentos de tensão (claro, foram aparências).
Um mecanismo de defesa que desenvolvi foi apatia, que é a base de um sujeito centrado.
Nada me agrada mais do que ir de encontro com os valores dos outros. Quando eles colidem podemos analisar a fundo no que realmente acreditamos e defendemos, igual a uma prova onde é posto tudo o que você aprendeu.