As últimas de Chico e Caetano
Chico cantava à Maria. Assim fez Caetano em seu maior delírio de um ser apaixonado. Eram os heróis da vida dela. Cantavam que o amor era obrigação e a felicidade uma lei. Cantavam Chico e Caetano, acalmavam os meus ouvidos e de toda a vizinhança desse mundo. E os ouvidos agradeciam àquelas prosas poéticas.
Foi-se tudo. Perdeu-se tudo. Sumiu-se tudo. Acabou-se a poesia e não mais nasceram Chicos e Caetanos. Coitado do mundo! Que vontade de voltar àquela estação e ouvir as canções da moda, que jamais deveriam se partir.
As suas últimas melodias tocaram em meu coração quando estava ao lado daquela mulher. Nunca a beijei, nem quis dizer-te o que eu sentia. Mas Chico disse, quando compôs aquelas frases no papel de guardanapo, no papel de pão, num caderno rasgado, e entoou-as com sua voz de Deus. E Caetano me remeteu a saudade de quando ela disse me amar, e se foi o tempo, como as últimas de Chico e Caetano.
Quando amanheceu aquele dia, Iolanda recebeu uma canção. E quem dera se essa canção não seria mais do que mais uma canção... Quem dera fosse uma declaração de amor. Quero morrer amigo de Chico e Caetano, pois poetizam o que vim fazer por essa vida, e quando chegar ao céu, falarei deles aos anjos.
Quando te vi, eu bem que estava certo, de que me sentiria descoberto. E como uma construção, nos sentidos de minha alma, amou daquela vez como se fosse a última. Grande Chico! E caminhando contra o vento. Sem lenço e sem documento. No sol de quase dezembro. Eu vou... Poetizou Caetano.
Cadê você, Caetano? Onde está seu amigo Chico? Se perderam. Perderam espaço nesse espaço um tanto louco, que jamais sonhariam encontrar.
Arrasa o meu projeto de vida. Querida, estrela do meu caminho. Espinho cravado em minha garganta. A santa às vezes troca meu nome. E some... Sumiram até com o romance de outros tempos.
Quando em um projeto divino Deus queira me mandar de volta por aqui, espero encontrar numa esquina, na casa de cima, no meio da rua, uma canção que me faz remeter o amor. Não entendo quem diz amar sem ao menos pensar em dizer frases de Chico e Caetano ao pé d’ouvido de seu afeto.
Lembro-me então as suas últimas canções, que fizeram essa donzela jamais me esquecer. Tenho a ambição de cantá-las ao mundo, quem sabe assim ele também não se esqueça de seus poetas.
Kallil Dib
Jornalista/Escritor
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