Vestibular
Havia me preparado para aquilo tal como um cavaleiro se prepara para uma grande batalha ou como um atleta se prepara para uma maratona. O dia havia chegado, a minha maratona estava prestes a começar e eu tinha que ser o primeiro, o vencedor daquela quase sangrenta batalha. Fui ao pátio da arena e vi que todos estavam lá, cavaleiros tão focados e motivados quanto eu se concentrando para o que viria a acontecer, até para lá da vista — eram tantos... tantos para derrotar! Entrei na sala de aula, na arena de batalha e na pista de corrida; os juízes estavam lá quase que com uma pistola, esperando para dar o tiro de largada. Mas o mais importante estava lá ao longe, e eu as visava com cobiça: as damas, galantes e superiores a quem queria eu impressionar com a maior dança de espadas de todas, a fim de conseguir um lugar em seu disputado coração; era aquele titilar e silvos de canetas e espadas, de preparo e de fadiga, de escarro e de cansaço, que me dariam um lugar, uma vaga, uma chance, um futuro. E esta era a pedra no meio da estrada; dezoito anos de preparo, dezoito anos de superação e subordinação, que me prepararam para aquele momento, poderiam ser jogados no lixo naquele instante. Tudo, desde meu futuro ao orgulho do meu passado, estava para ser redigido ali, naquele lugar, naquele dia dum futuro que me enoja, ou naquele dia dum futuro que ainda me vê como prematura escória, naquele instante de concentração final, naquele controle à vontade de a todos xingar e aos deuses berrar, o controle da vontade de aberrar, futuro que o convida ao mundo real, no vestibular...