Meu D-us frustrado
Admito que eu bem que queria ouvir um ‘não’. Pronto. Ponto. Mas, nem isso. Pior do que um ‘não’, é a indiferença. O ‘não’ é o retrato de um amor negado. É ela proferir que sente repulsa pelo que há de mais nobre no meu coração. A indiferença, porém, é o total desprezo pelo meu afeto. Quão dolorido é saber que ela sabe que isso dói tanto dentro de mim que extravasa pelos meus olhos, mas ela não liga. Isso me frustra. Sinto-me um nada (que é menos do que ‘ninguém’).
Ah! Ela me mata, lentamente, quando não dá qualquer valoração ao meu sentimento, ao meu espírito que tenta entrar em consonância com o dela. Minhas mensagens são deletadas do seu celular, antes mesmo de serem lidas. Meu número na agenda dela serve como um sinal de que não é para atender. Como é triste querer abraçá-la, mas isso não é possível. A explicação é simples, resume-se a três palavras: ela não quer. Bem que eu gostaria de entender o(s) motivo(s) de ela não (me) querer, mas acho que essa parte é incompreensível... Talvez, para ela, eu não seja um ser (um ‘quem’); talvez eu seja apenas um troço (um ‘o quê). Acho que é isso. Sou um mero objeto sem valia que, apesar de fazer parte da vida dela, não faz falta alguma.
Aí me lembro de uma passagem bíblica na qual Jesus aparenta estar – assim como eu – também um tanto frustrado. O trecho está registrado no Evangelho de São Mateus, capítulo 23, versículo 37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedreja os mensageiros que D-us lhe manda! Quantas vezes eu quis abraçar todo o seu povo, assim como a galinha ajunta seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!” (NTLH).
E, enquanto meus olhos percorrem essa parte das Sagradas Letras, meu sentimento de frustração por não ser alvo do amor daquela senhorita diminui. Mas passo a sentir outro tipo de frustração. É quando eu percebo que muitas vezes sou ‘Jerusalém’. Apesar de não assassinar, fisicamente, algum profeta, pergunto-me quantas vezes não deixei de ouvir a voz do Alto por não dar atenção às prédicas – dos cultos ou das praças. Mesmo sem nunca ter pegado uma pedra para lançá-la contra algum ministro do Evangelho, muitas vezes o meu próprio coração está tão petrificado, que a Luz e a Semente do Alto não conseguem entrar. E, quantas vezes, eu rejeitei o abraço dEle, por não parar entrelaçar-me com Ele. Ninguém dá abraço correndo. É preciso parar para abraçar. Como Ele pode me abraçar, se estou correndo tanto, de um lado para outro?
Envergonho-me por causa disso. Não quero entristecer o coração de Alguém que me ama tanto assim. Até porque creio que D-us é ‘quem’; Ele não é ‘o quê’. Ele não é uma mera energia que vaga, sem consciência de si, pelo universo. Jesus é D-us Filho, e Ele veio ao mundo mostrar como é o D-us Pai. Ele é espírito, mas é provido de sentimentos, de vontades, de plano, de ideias... E é Amor, completamente Amor, exclusivamente Amor...
Quero fazer da minha vida uma oração, findar essa dupla frustração – a minha e a dEle. Quero amá-Lo, mais e mais, relacionar-me mais com Ele. Entrelaçar-me com Ele. E, fazendo isso, tenho certeza de que a vida será melhor, meus sentimentos ficarão mais brandos, os meus dias serão mais doces. E a senhorita? Ah, já não importa mais tanto assim...