Capítulo11
Fazia dias que não era arrumada.
O apartamento de Marco sempre parecia um chiqueiro em tempos de uma longa investigação. Havia vários dias, eles estavam no encalço do que poderia ser um assassino em série ou simplesmente assassinos com métodos e vítimas parecidas, mas o fato é que Caio e Marco concordaram em tratar como um só.
“Finalmente uma noite decente de sono” pensou Marco quando o telefone tocou. Era Catarina, a mulher que ele conhecera no bar. Ela era casada com um médico que vivia viajando e por isso, naquela noite, dormira na casa de Marco. A mulher tinha olhos azuis e uma pele morena clara, ele se lembrava, e o melhor era que transava muito bem. “Deus queira que ela não esteja pensando em transar hoje” pensou.
- Marco, você pode vir até aqui em casa hoje? – perguntou ela, tinha uma voz preocupada, percebeu o detetive.
- Hmm...... hmm – pensou por alguns segundos - claro – disse ele com o pensamento lento, sentando-se na cama – aconteceu alguma coisa?
- Eu estou com medo! – disse ela com a voz chorosa –acho que estou sendo vigiada.
- Claro Cathy – tentou parecer o mais terno – já estou indo.
Ele sempre criava apelido para as mulheres, sem saber se elas gostavam ou não. Normalmente elas aceitavam bem, a única que realmente não gostou foi a delegada, quando ele chamou-a de Docinho, a reação dela expressou um misto de desprezo e nojo pelo apelido. Apesar de Sâmia não ser o tipo de Marco, ela tinha a sua sensualidade, principalmente pela sua personalidade forte e inabalável, que deixava o rapaz excitado só de pensar.
A casa de Catarina era na verdade uma mansão. Os muros de pedra amarelados davam a impressão de mini-castelo, o portão era duplo e composto de traves metálicas com pontas de lança em cima. Marco notou o sistema de câmeras, que estavam instaladas no topo do muro, pegando ao redor de toda a área da casa. O jardim guardava flores de vários tipos e Marco chego a achá-lo bonito. A casa era duplex, parecia ter pelo menos uns oito quartos, pelo número de janelas. O telhado tinha uma antena parabólica que deveria pegar todos os canais existentes, pensou Marco. De toda a parede saíam traseiras de ar-condicionado. Marco olhou pasmo toda a estrutura e lembrou-se de seu kitnet. Riu achando graça de si mesmo.
O portão abriu-se antes de Marco tocar o interfone e Catarina atendeu a porta antes mesmo que ele tocasse a campainha. Ela usava um roupão vermelho escuro, estava fabulosa, tinha passado algum hidratante cheiroso que arrepiou os pêlos na nuca de Marco, ela vestia havaianas brancas e o cabelo estava solto, mostrando o grande volume de cabelos ondulados que ela tinha. Marco logo perdeu o sono. Ela convidou-o a entrar.
A sala era iluminada por uma luz fraca controlada através de um painel numa parede próxima. A casa da mulher parecia um motel gigante: uma mini-cascata caía, a água subindo por um vidro que escondia uma banheira no meio da sala, ar-condicionado central que gelava a sala toda. Um tapete de pele sintética de urso branco ficava no centro da sala de estar, que tinha uma televisão digital de sabe-se lá quantas polegadas, dois sofás convidativos á deitar-se formando um “L”, um frigobar ao lado de um dos sofás e uma mesinha central, daquelas de pernas curtas onde Catarina colocava uns enfeites estranhos. “O decorador aqui se divertiu” pensou Marco.
Catarina serviu dois drinques para eles e sentou-se, ela tinha um ar realmente de preocupada e Marco perguntava-se o motivo. “Será que o marido contratou algum investigador?” pensou ele e deixou a idéia de lado, ela não convidaria um homem para ir á sua casa ás onze da noite se acreditasse que o marido fizera algo do tipo.
Eles brindaram timidamente.
- Que motivos você acha que tem para estar sendo seguida? – perguntou ele depois de tomar um gole do drinque.
Ela pensou antes de responder, parecia que não esperava uma pergunta dessas. Se bem que, era óbvio que ele ia perguntar algo do tipo e Catarina chamou-se mentalmente de idiota.
- Eu posso estar sendo paranóica Marco – respondeu ela olhando nos olhos dele – mas não creio que seja alguém do meu marido.
- Seria o mais provável.
Ela negou com a cabeça.
- Não – tomou um gole do seu drinque – ele deve saber, mas o fato é que não liga sabe? Enquanto eu o fizer gozar, ele vai ficar comigo... e com as outras também – ela riu, ela realmente tinha uma risada bonita, percebeu Marco.
Ele fez um sinal com a mão para que ela continuasse.
- Desde que saí do shopping ontem, um carro me seguiu – disse ela com as mãos trêmulas – o vidro era fumê, mas eu acredito que seja um homem.
- Como você pode saber?
- Era carro de homem, era um Maverick.
- É, realmente isso é carro de homem – concordou ele.
Eles riram
- Mas você está comigo – continuou ele pousando a pistola 45 sobre a mesinha – e qualquer canalha que queira te incomodar enquanto estivermos juntos vai levar bala.
Eles riram de novo em uníssono, então pararam e se olharam... e não resistiram. Ele á sensualidade de seu sorriso e ela á sensação de proteção. Beijaram-se. Se o beijo mais selvagem e mais quente que Marco já dera não foi esse, então chegou bem perto. A boca grande de Catarina quase engolia a dele, as duas línguas como duas dançarinas perfeitamente coreografadas faziam sua dança do amor, liberando hormônios e sensações que os dois almejavam.
Marco passou ao pescoço dela. As mãos da mulher abriram com força a camisa de botão que ele vestia, arrebentando dois deles enquanto forçava-o a tirá-la.
Marco mordia o pescoço de Catarina enquanto ela soltava gemidinhos e mordiscava sua orelha. Ela explodia de tesão. Ele desceu pelos ombros dela, beijando, mordendo, lambendo cada pedaço de mulher que tinha ali.
Catarina puxou-o para cima de si e os dois deitaram-se no sofá, Marco estava com a perna esquerda no meio das dela. Beijavam-se loucamente. Ele conseguia sentir o tesão daquela mulher de forma tão intensa que beirava ao sobrenatural, como uma aura ou uma camada de energia que passava direto para ele, fazendo-o suar e enlouquecer-se. O ar condicionado perdera o efeito para os dois.
Marco abriu o roupão dela com um só puxão do nó, revelando os seios que ele sentira tanta falta nesses dias: redondos, duros, com mamilos pequenos e rígidos que chegavam a espetá-lo, tamanho o tesão que ela estava. Catarina gemia enquanto ele mordiscava seus mamilos com a ponta dos dentes. Mordiscava de leve, produzindo pequenos choques que faziam-na tremer e perder a força das pernas. Ela agarrava os cabelos dele e puxava com força, tentando controlar a excitação.
Ela tirou o cinto e abaixou as calças dele, depois o puxou de volta para si, para que ele a possuísse de forma mais completa e excitante do que a última vez.
Os gemidos foram altos e ouve até gritos por parte dos dois, fizeram poucas posições, mas fizeram-nas bem feitas, de forma que Catarina nunca tinha feito antes com nenhum outro homem. Nunca tinha transado com seu protetor quando sentiu medo de alguma coisa, na verdade, ela não lembrava-se de sentir medo. Catarina era uma mulher que enfrentou poucos problemas na vida: sua bunda e seus olhos garantiram-na uma vida fácil, de luxos e prazeres que a maioria sonhava.
Já ela, sonhava com a felicidade e nas duas vezes que estava com Marco, realmente estava feliz. Ele era o único homem desde os seus quinze anos que não tratava-a como uma puta, que via algum conteúdo naquela mulher inteligente.
Na noite seguinte o hospital estava quase vazio e já era quase onze horas quando caio e Ani chegaram. Desde a manhã antes de Talita bater o carro, ela e Caio não se viam. Caio só veio á pedido de Ani que não entendia o porquê sua mãe ainda estava no hospital, e o pai não tinha uma resposta convincente para dar á filha. Na verdade ele queria visitar a esposa, sabia que ela precisava dele, mas tinha medo. Medo de desabar na frente do seu amor, de não conseguir dar a força que ela sempre conseguiu dar a ele.
Caio não tinha raiva pelo que a esposa havia omitido, ele entendia que era uma notícia complicada para ela, que com certeza sofrera muito. Ela definitivamente não tinha culpa, ele que tinha.
- Eu devia tê-la levado ao médico antes! – disse ele para Sâmia enquanto os dois conversavam na lanchonete do hospital. Marco estava com Ani tomando um sorvete em uma mesa mais distante, ele pedira um de chocolate e a garota um de abacaxi. Apesar das tentativas de chamar atenção do padrinho, ela não conseguia parar de reparar na tristeza do pai.
- Ele só tava preocupado com vocês duas, meu anjinho – disse Marco passando a mão na cabeça da afilhada.
- Mas eu to bem, tio. – disse a menina, com os cabelos loirinhos e lisos, que eram cortados pouco abaixo de seus ombros, balançando enquanto ela fazia brincadeiras com o sorvete.
- Anizinha, o que é aquilo? – disse ele apontando para alguma coisa atrás dela e fazendo-a olhar rapidamente para trás. Ani não viu nada, mas foi o suficiente para que Marco conseguisse pegar um pedacinho de sorvete do pote da menina.
Ela voltou-se o olhar para ele, não entendendo que fora alvo de uma das piadas do tio, segurou o pote de sorvete e concentrou-se nele.
- Olha Anizinha, de novo! – ele repetiu a brincadeira.
Ani segurava o pote de sorvete, ela olhou para trás e sentiu o pote movimentar-se na sua mãozinha. Virou-se rapidamente e pegou o tio com a colherinha roubando mais um pedaço do seu sorvete.
- Ah tiooo – ela riu – você ta roubando meu “sovete”.
Enquanto a maioria das crianças ficaria chateada, Ani pegou um pedaço do seu sorvete de abacaxi e colocou no pote de Marco.
- Não paixão, eu não quero não, era só brincadeira.
- Agora você vai comer tudinho – disse ela com cara sádica, enfiando todo seu sorvete no pote do tio, que realmente não queria mais, mas teve que comer tudo enquanto ela se deliciava com o sacrifício dele.
Ani entrou primeiro no quarto e Caio entrou logo em seguida. Talita dormia. Ani foi até a mão da mãe, beijou-a e fez um carinho dizendo que daqui a pouco ela já poderia voltar pra casa, Talita acordou sorrindo, disse um fraco “oi” para a filha e cumprimentou Caio com um olhar.
- O papai cozinha mau mamãe – disse ela – volta logo!
Talita riu.
- E o tio “Maco” pior ainda.
- Ei, eu ouvi isso! – disse Marco do lado de fora do quarto. Todos riram, principalmente Sâmia, que só conteve uma gargalhada maior porque o momento não era apropriado.
Ani e a mãe conversaram por alguns minutos, Caio olhava orgulhoso para a filha que apesar dos quatro anos, ele podia apostar que conseguiria tomar conta da mãe.
“- O cara que casar com essa menina vai ter muita sorte – disse Caio uma vez á Marco sobre a filha na festinha de aniversário dela quando vira Ani cuidando de um coleguinha enquanto Talita buscava um curativo, pois ele ralara o joelho.
- É, mas eu vou sondar o desgraçado anos antes dele decidir casar com minha afilhada – disse Marco rindo – e se magoar a menina eu dou um tiro bem no saco do infeliz.
Caio gargalhou.
- Engraçado como você tem mais ciúmes dela do que eu.
- Você nem imagina parceiro! – riu ele – tenho um ciúme tão grande dela que por mim a gente colocava ela num vidrinho!
Os dois riram.”
- Ani, me dá um minutinho com a mamãe? – pediu o pai carinhosamente quando acordou de suas lembranças.
- Ta! – disse ela olhando pra cima – tchau mamãe!
- Tchau meu amor – disse Talita, com a voz fraca.
Ani saiu do quarto e foi de encontro á Marco e Sâmia que conversavam sobre o caso em que ele e Caio estavam envolvidos. Ani não chamou a atenção deles, postou-se á escutar a conversa dos dois, apesar de saber que era falta de educação.
Caio estava sozinho com Talita no quarto. Ele analisou a esposa e ela continuava linda aos seus olhos, o cabelo estava um pouco amassado, e a roupa do hospital dava um aspecto frágil á forte mulher que ela era, mas ele não se incomodava, ela continuava linda.
- Oi – disse ele tentando quebrar o silêncio.
- Oi – respondeu ela, não sabendo também como quebrá-lo.
Silêncio. Caio engolia o choro.
- Como está a minha casa? – perguntou ela – eu a quero inteira quando eu sair daqui.
- Tudo bem! Vai estar melhor do que você deixou, você vai ver.
E o silêncio instalou-se de novo. As lágrimas de Caio imploravam para sair, o choro entalou na garganta e forçava a saída como a sensação de ânsia de vômito quando não se come nada.
Talita, que encarava o marido, abaixou os olhos.
- Eu não vou sair daqui não é? – disse ela, por fim, com voz chorosa e nenhum dos dois suportou. As lágrimas vieram brotando nos seus olhos e como uma só pessoa eles começaram a chorar ao mesmo tempo. Talita num choro fraco, onde só caíam lágrimas e a boca tremia. Caio num choro infantil, como uma criança que não consegue controlar os soluços. Eles se abraçaram. E por um longo tempo ficaram chorando, Talita abraçava-o com toda a força que tinha e Caio abraçava-a levemente com medo da fragilidade dela. Ele acreditava que suas lágrimas haviam acabado, de tanto que chorara nos últimos dias, só veio visitar Talita porque acreditava que não tinha mais forças para chorar, mas lá estava ele “fraco desgraçado!” xingava-se mentalmente.
- Me perdoa, Caio, por favor! – disse ela enquanto abraçava seu marido, seu amor, sua alma gêmea.
- Não! A culpa é minha! Eu devia saber – disse ele tomando a culpa para si, mas a verdade é que nenhum dos dois tinha culpa. Era o destino, e o destino é inexorável.
- Promete que vai cuidar da Ani pra mim?! – pediu ela sem conseguir conter o choro.
- Não diz isso! – ele soluçava no pescoço dela – por favor, não diz isso!
Os dois encerraram as palavras, talvez recuperando as energia das lágrimas, talvez sem saber o que dizer ou talvez porque cada palavra criava um sofrimento no outro, mas com certeza as lágrimas gastam muita energia quando são por amor.
E a Morte, que toda noite velava o sono de Talita, resolveu dar privacidade aos dois, porque para um verdadeiro amor, a Morte não é uma barreira intransponível e por um amor tão sincero, ninguém viu, mas a morte deixou cair uma lágrima de suas órbitas vazias.