BRIGA

BRIGA

O dia estava amanhecendo, eu não vi, mas possivelmente os primeiros raios do sol estavam passando por cima do Morro do Fama e iluminavam o Morro do Ilney. Pode parecer estranho, mas para mim, esta colina está sempre iluminada, mesmo nas noites mais escuras, eu sinto a luz da áurea do saudoso amigo Ilney fazendo a ronda na montanha.

É nesse local que moro, e arena de batalha até certo ponto cômica.

Estava semi-acordado e discutia comigo mesmo os afazeres do novo dia que nascia. Quando estava na melhor parte da discussão fui agredido por seguidas e violentas pancadas na porta do quarto que se abre para o pátio.

Assustado, meio sonolento levantei-me e abri a porta imaginando alguma brincadeira de mau gosto. Para surpresa não encontrei ninguém, fiquei se entender nada, pensei que talvez sonhara e voltei para cama. Não demorou nem cinco minutos e as pancadas voltaram a se repetir. Dessa vez com muito mais rapidez quase que imediatamente escancaro a porta e nada, ninguém. Fiquei intrigado, mas o que fazer? Retorno às cobertas, pois estava meio frio, mas fico atento esperando por mais pancadas misteriosas. Dessa vez não durou nem um minuto, novamente pancadas incessantes se fizeram ouvir. Perdi a paciência, nem abri a porta fui direto para o quintal enfrentar o engraçadinho. Coloquei-me atrás de uma coluna e fiquei a espreita por um bom tempo mais nada aconteceu. Abandonei o caso e fui preparar-me para sair.

Tomei meu café e antes de sair resolvi jogar água no carro, pois estava orvalhado, nessa tarefa dei o flagrante no autor das pancadas. Era sem mais nem menos um quase extinto tico-tico, após um vôo rasante pousou na maçaneta, viu seu reflexo no espelho e atacou com grande fúria.

Percebendo minha presença abandonou o suposto rival, mas ficou ainda por perto com ares de ameaça. Depois dessa não me contive e comecei a rir sozinho. Como não bastasse, um outro dia, o peguei em luta ferrenha com o espelho retrovisor do meu carro.

É notório que canários da terra, pintinhos mal saídos do ovo, se põem a lutar. É um comportamento será que natural? Será por acaso um instinto ainda vivo de eras ancestrais, em que todo mundo lutava pra valer pela sobrevivência?

Fico imaginando como será difícil um dia conseguirmos a paz. Se um simples e inocente tico-tico se digladia a troco de nada. Quanto mais o ser humano que coloca o dinheiro e o poder acima de tudo. Mas não podemos nos deixar abater, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, e não me consta que este tenha sido um guerreiro.

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zoric
Enviado por zoric em 09/04/2007
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