O homem deitado na calçada
O ônibus demorou demais-de certo chegaria atrasada na faculdade. Mas em fim chegou, e estava lotado.
chegando próximo à parada de ônibus seguinte vi, através da janela, um homem sem camisa, sem sapato, somente usando uma bermuda, estirado na calçada.
Na verdade aquela cena já era comum para mim, pois este não foi o primeiro e nem será o ultimo homem que vejo, jogado no chão a dormir embriagado.
Ao vê-lo, naquele instante, de manhã bem cedinho, não me importei muito, pois sabia que depois ele levantaria e iria para outro lugar.
Fui para as minhas obrigações de estudante, aflita com prova de economia. No final tudo se resolveu, e hoje seria o ultimo dia de aula antes de um breve recesso de mais ou menos 15 dias.
Quando voltei, tive uma surpresa, o homem ainda estava lá, e estava deitado quase da mesma maneira, a diferença é que agora ele estava, não embaixo de uma brisa fresca da manhã, mas em baixo de um sol escaldante. Se para mim que havia acabado de descer do ônibus, o sol estava forte demais, imagine para aquele pobre homem que estava deitado em cima da calçada de cimento?
Fiquei a observá-lo enquanto o sinal do semáforo não abria. Percebi que estava imóvel, apesar de estar com uma das pernas flexionadas no chão.
Quando o sinal abriu, pude vê-lo mais de perto, seu rosto estava meio pálido, imóvel, com uma fisionomia desfigurada, simplesmente horrível.
Passei bem perto e olhei para seu peito a fim de ver algum movimento de respiração, mas não consegui.
O impressionante é que eu olhava para as pessoas que passavam por ele e notei que somente eu me importava. Elas passavam sem a menor consideração. Ai imaginei que o motivo seria por aquilo já ser costumeiro em nossas ruas. Talvez eu me importasse mais pelo fato dele está daquela maneira desde quando fui para a faculdade.
Fui caminhando e olhando para traz na esperança de ver algum movimento dele para que eu fosse tranquila para casa, mas não.
Nesse momento pensei em Deus, e pensei no quanto estávamos provando nossa falta de compaixão e preocupação com o próximo.
Um pouco mais a frente parei para comprar jujuba, ai então descobri que isso era apenas uma desculpa para comentar com o bombonzeiro sobre o estado do desconhecido homem. Perguntei:
_ Será que este homem está bem? esta vivo?
_Ele está de porre. Está dormindo- disse o vendedor.
_Mas ele está ai desde quando passei bem cedo.
_Deixa eu ver- disse o vendedor, agora com dúvida.
O senhor caminhou para perto do homem para me dar uma resposta convincente.
Não dava para escutar a voz dele me dando a resposta, pois o barulho de ônibus e carros erra terrível, somente entendi ao sinal que fez: um polegar para cima indicando positivo.
Depois disso, fui um pouco mais tranquila para casa, apesar de ir com um peso enorme na consciência... será que não era meu dever fazer alguma coisa? . Na verdade o medo e o receio da reação do homem se me dispusesse a ajudá-lo, era grande e covarde.
Ai pensei na criminalidade do país, na falta de apoio as pessoas como essas que vemos todos os dias margeando nossas ruas. Tudo aquilo esquentava ainda mais minha cabeça.
Peguei a chave de casa e entrei.