COLEGA DE TRABALHO – XII – continuação.

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                 Sou premiado por uma manhã leve e ensolarada no trajeto para o trabalho, mas a maior luz do meu dia não é essa.
                       Entro e cumprimento os que já estão na seção. Ela ainda não chegou. Estou com as mãos frias e de olho na porta...
                        A espera termina, consigo ouvir o bom-dia abafado, os olhos azuis como abóbada celeste percorrem a seção e dão uma leve parada sobre a minha mesa. Começa uma taquicardia que procuro controlar com a respiração pausada.
— Olá, Isabel. — Disse eu, quando ela passava rente à mesa. O nome dela não é Dirce como fui informado pela rádio “Pião”!
— Oi. — Disse um “oi” mais aberto e foi para a mesa perto da janela.
                       O perfume ainda me abraçava quando ela acabava de se ajeitar à mesa. Olhou-me. Fico sem ar e as últimas gotas de saliva evaporam-se.
                        Nossa! Como quero essa mulher. Acordar de madrugada, acender o abajur, contemplar o travesseiro ao lado para ver o rosto suave ressonando como um bebê na cabeleira ruiva. Inventar uma desculpa e fazê-la abrir os olhos, abrir as lindas portas que dão acesso a alma e a um horizonte distante; e a boca semi-aberta dizendo: aceito, venha! eu desejo você.
                        E a hora da saída chegou. Faço “cera” para poder acompanhá-la, caminhar ao lado.
— Trabalhamos juntos, mas conheço muito pouco você. — Disse eu achando o comentário ridículo. Deveria ter dito: “quero um pouco de sua luz para que eu possa sair das trevas...”
— Hem? — perguntou sem me olhar.
                  Cadê a força para repetir o que acabei de falar? É melhor fazer de conta que não disse nada... No meio de vozes indistintas e distantes lá vamos escada a baixo. Sem jeito fico para trás, ela dá uma leve olhada por sobre os ombros, não me vê e segue em frente, talvez pensando: “fica para amanhã, esse cara é muito bobão.”
                       Pisando sobre os planos destroçados vou para meu canto curtir o vazio feito pela minha falta de astúcia. Essa noite vou descobrir porque não consigo viajar no barco do amor como a maioria das pessoas... O que tem de errado comigo? Será a minha aparência ou a falta de jeito? (Jorge Lemos)
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 08/08/2013
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