Coringas
Algumas pessoas me fazem lembrar o Coringa, eternizado no filme Batman - o cavaleiro das trevas, com sua personalidade maléfica. O que sempre me chamou a atenção no Coringa foi sua falta de motivos para fazer o que faz e ser o que é. Por que ele cria o caos? Qual é o porquê que o leva a prejudicar tantas pessoas? No filme, Alfred, mordomo do Batman, sugere uma resposta contando a história de um bandido que rouba algumas pedras preciosas, mas não as vende para ninguém. Ele narra que algum tempo depois uma criança é encontrada brincando com uma das pedras do tamanho de uma tangerina; o bandido as estava jogando fora. É nessa parte que Bruce lhe pergunta por que então ele as roubara. A resposta do Alfred foi a seguinte: “Para ele, era só um esporte! Existem alguns homens que não buscam nada lógico [...] tem homens que só querem ver o circo pegar fogo”. E o que isso tem a ver com pessoas? Tudo! Se pararmos para pensar em nossa vida sempre irá existir alguém que virá para trazer o caos onde há ordem. O mais interessante é que na maioria das vezes sem motivo algum. E por quê? Simplesmente porque esse alguém quer ver o circo pegar fogo.
Certa vez um amigo me disse o seguinte: “quando está tudo bem, parece que alguma coisa sempre acontece pra estragar tudo”. Essa fala foi depois de um desentendimento com sua namorada ocasionado por uma intriga levantada por uma pessoa querendo ver fogo. E isso parece ser algo bem recorrente, não só nos relacionamentos afetivos, mas em tudo na vida. Quando tudo está em ordem surge um Coringa e instala um verdadeiro caos. Talvez algumas pessoas ajam assim porque tem em si um apresso pelo caos. São pessoas que sempre fazem questão de colocar empecilho diante de algum projeto; de fazer acordar diante de um sonho. São destruidores de utopias. São bandidos roubando nossas pedras preciosas por puro esporte, apenas para ver o caos; são verdadeiros Coringas. Sabe aquela pessoa que quando você compartilha alguma intenção ela logo faz questão de dizer: “você já pensou que...” ou então, “não seria melhor você pensar direito antes de...”. Coringas roubando nossas pedras preciosas.
Pior do que os ladrões de nossas pedras preciosas são os agentes do caos. Esses são os promotores de confusão e desordem. Gente que faz questão de se meter naquilo que literalmente não foi chamada, apenas para ver o que está em ordem se transformar em desordem. Gente maldosa e intrigueira que não consegue produzir outra coisa a não ser o caos. Essas são Coringas também.
No filme cavaleiro das trevas, a cidade de Gotham está vivendo um processo de estabelecimento da ordem, até que ele, o Coringa, chega e coloca tudo abaixo simplesmente pra ver o circo pegar fogo. O próprio Coringa se define como um agente do caos; um cão perseguindo um carro que não sabe exatamente o que fazer caso consiga alcançar algum.
Constantemente eu questiono a afirmação de Sartre de que o “inferno são os outros”, mas na maioria das vezes ela parece ser tão verdadeira. No entanto, pensando no Coringa e como sua personalidade não é algo apenas dos quadrinhos e cinema, entendo que o outro não é um inferno em si, mas tem um potencial extraordinário para criar “infernos” e que o espírito caótico do Coringa está personificado em muitas pessoas que nos cercam. No entanto, apesar de todo mau que tais Coringas nos causam é possível vence-los e sempre trazer de volta, ordem para a desordem. Como? Mostrando para eles que conseguimos ficar em pé mesmo em meio ao caos que eles causaram. No final, a ordem, a resistência, a resiliência e nossa persistência, sempre serão nosso trunfo diante dos maléficos Coringas.