HISTÓRIAS DO SERTÃO – A ASSOMBRAÇÃO DO AÇUDE

O açude é um mar de tão grande que é.

Nas profundezas das águas tem uma cidade antiga.

Histórias de amor e medo, profundos segredos.

O menino nasceu todo esbranquiçado, transparente, a pele branca, os olhos vermelhos que dava medo. Parecia até uma alma penada. Era por isso que desde menino não saía durante o dia. Escondia-se de todos. Andava escondido do sol. Só saía quando escurecia para pescar no açude. Ficava por lá até altas horas da noite. A mãe dele morria de preocupação com o menino. Voltava pra casa com o samburá cheio de peixes de todos os tipos.

- Que é que tu faz tanto lá no açude até umas horas dessas, menino?

Ele veio um dia com uma história de que sempre que ia ao açude aparecia uma visagem metade mulher e metade peixe. A história se espalhou como rastilho de pólvora. Ninguém mais se atrevia a pescar no açude quando escurecia. E o menino, dizia a mãe, não era de mentir. Era só no que se falava desde então. Tem muita assombração no sertão e as águas dos açudes escondem muitos mistérios.

- Debaixo dessa água tem uma cidade inteirinha. Duvida? Tem até a igreja. A gente escuta o sino badalando quando dá meia noite. É a missa das almas penadas... – cochichava o povo nos alpendres.

Pois teve uma vez que o menino foi ao açude como de costume e não voltou. Saiu todo mundo procurando por ele. Era quase certo de que tinha morrido afogado. Colocaram uma vela numa cuia boiando nas águas pra procurar o defunto, mas não acharam nada. A pobre mãe desesperada se conformou com o infortúnio e mandou colocar uma cruz na beira do açude que tá lá até hoje, silenciosa.

As pessoas contam que às vezes, nas noites de lua cheia, dá pra ver no meio do açude, uma mulher metade peixe e com ela um menino de pele tão branca, que até parece um raio de luar.