A árvore chorona
O pequeno Marcos brincava no tapete da sala.
Seu pequeno caminhãozinho enfrentava quaisquer obstáculos: Montes de almofadas, poeira de vassoura e até areia. Nada o parava.
— Fique longe do sofá! Sua irmã o alertou. — Já esqueceu o que a mãe disse?
O sofá... Lindo e novo, com aquele cheirinho de couro...
Que vontade de morder... Não! Ele precisava ser forte!
A última vez que desobedecera à mãe havia levado uma bela surra.
Se bem que daquela vez ele tinha passado por debaixo da chorona.
Era só passar debaixo daquela árvore e... Batata! Surra na certa!
Marcos voltou a brincar com seu caminhão, já do outro lado da sala.
Olhou a irmã, compenetrada na varrição e foi chegando perto do sofá.
Passou a mão para sentir a textura. Aproximou o nariz do braço do sofá e inspirou forte. Que cheiro gostoso...
— Pode sair daí! Maiquinho, seu outro irmão, acabava de entrar na sala.
— Já acabou o jogo? Perdeu de quanto? Marcos o provocou.
— Muito engraçado! Maiquinho replicou. – Fique longe do sofá! Lembra da mesinha? — Aquilo foi um acidente! Como eu iria adivinhar que a mesinha era tão mixuruca?
A irmã encostou a vassoura na parede e entrou na conversa.
— Nunca te falaram que lugar de sentar é na cadeira e não na mesa?
— Mero detalhe!Marcos deu de ombros e continuou a brincar.
— Como foi o jogo?A irmã perguntou para Maiquinho.
— Três a zero... Para eles!
— Não falei!Marcos gritou triunfante!
A irmã afagou os ombros de Maiquinho. — Vá tomar um pouco de água –recomeçou a varrer.—Depois que eu terminar aqui a gente joga Banco Imobiliário.
Maiquinho assentiu e foi para cozinha.
A irmã olhou o pequeno Marcos por um instante. Parecia meio indecisa.
— O que foi? Marcos parou de brincar e olhou para a irmã.
— Se eu for rapidinho levar o lixo lá fora, você se comporta?
Marcos fez careta. — Claro, afinal não sou nenhum bebê!
Meio relutante, a irmã saiu rapidinho. Voltou menos de trinta segundos depois.
— Quem mordeu o sofá?A mãe perguntou, já com o cinto na mão.
— Como? Não faz nem um minuto que deixei a sala? A irmã estava aturdida.
— Nem olhe para mim. Maiquinho falou calmamente, retornando da cozinha.
— Além do mais, eu não tenho dentões enormes como esses – completou.
A mãe olhou para Marcos. — Foi você?
— Não fui eu! Ele chorava escandalosamente. Olhou o barrigão da mãe.
Em breve seria mais um a apanhar. Como seria mesmo o nome? Ah! Wiliam! Por alguns segundos se esqueceu do cinto ameaçador.
— Então, menino! Pelo visto, a mão não se esquecera. Que saco!
— Não fui eu! Repetia sem parar e às lágrimas.
A mãe não se convenceu. Levantou o cinto e foi em direção a Marcos.
— Se for bater nele, terá que bater em nós dois também – Maiquinho interferiu.
— Sem problemas – a mãe respondeu. — E vou começar por você!
— Excelente ideia! A irmã ironizou, olhando para Maiquinho.
Foi cintada para todo lado.
Enquanto os irmãos apanhavam, o pequeno Marcos ria a valer.
— Agora é sua vez! A mãe olhou para o pequeno Marcos.
Antes mesmo de a mãe levantar a cinta, Marcos já estava gritando.
— Espero que tenham aprendido a lição. A mãe saiu deixando os irmãos sozinhos.
— Mas eu nem passei por debaixo da chorona hoje! Marcos reclamou!
Maiquinho fez uma careta. — Mas eu passei...
O pequeno Marcos olhou para os irmãos e os três desataram a rir.
A vida era realmente boa...