As minhas chuteiras ainda são pretas
Posso escrever os meus versos tristes para te dar, que você vai dar vida às minhas palavras e vai alimentar os meus dias de esperança. Você, apenas com o teu sorriso de topázio, ilumina o mundo inteiro, inclusive o meu. Mas não vou aqui dizer que colocarei o seu nome nas nuvens, com uma declaração de amor sob o sol, ou que escreverei junto às estrelas o quão é lindo sentir o teu sentimento. Nem vou falar a você três palavras belas e depois te dar uma rosa, pois o tempo já levou tudo isso embora daqui.
Hoje as declarações não existem em forma de canção, nem plagiadas de Renato Russo e Cazuza, não existem mais os poetas da madrugada, que em serenatas criam frases sinceras, e o mundo nem é assim tão romântico, ou tão antigo.
Só peço um minuto da atenção das mulheres de Vênus, e do tempo desse tempo. Um pouco de coração no ser humano que hoje vive aqui, só queria no mundo um pouco de antigamente. Não estranhe, então, se nessas frases eu me declarar, e me instigar com seu amor. Pois quando penso nos teus olhos sorrindo por essas citações apaixonadas, me lembro da frase que minha avó dizia: só é amor, quando acontece.
E que pena que os netos de hoje não ouvem os seus avós. Se soubessem o tanto que eles têm a ensinar, o tanto de sonhos bons que têm para compartilhar. É difícil de imaginar esses avós sem netos para ouvir. Quanto desperdiço!
O tempo da brilhantina passou. As rosas murcharam. O destino é hoje. E não é como um dia alguém sonhou. Não mesmo! Pois não acredito que alguém um dia tenha planejado viver em rebeldias, ouvindo a canção da moda que fala da guerra, e esquece a paz. Não me contento em pensar que talvez um dia alguém tenha planejado venerar a felicidade, antes de encontrar o amor. Não acredito em felicidade sem ele.
Ontem, eu me vi acordando em plena luz do mundo, e não queria sair de onde eu estava, no acalanto demorado de minha mãe. Escuro, quente, quieto, como imaginava que o mundo iria ser. E acordado, chorei feito gente grande, pois estranhava estar ali, num lugar tão gigantesco. Mas não demorou a me acalmar, nos braços firmes e aconchegantes de uma donzela. Eu mal sabia que tantos anos depois, o meu desejo é voltar àqueles braços. Me digas que sou antigo e antiquado demais por ainda venerar o teu afeto, e considerar ele a parte mais importante de meus dias.
Não me chame de maluco, então, por estranhar o futebol de ontem, onde teve momentos em que eu não sabia se prestava atenção nas chuteiras dos jogadores ou na partida emocionante que acontecia naquele gramado. Antigamente, as chuteiras eram apenas pretas, e o amor era o enredo das lindas histórias contadas por meus avós