FUMAÇA

Eu caminhava na praia, deserta como nunca havia visto, parecia até que estava me esperando, aguardando que eu lhe contasse todos os meus segredos, que revelasse todas as minhas tristezas. E era isso mesmo que eu estava tentando fazer, me desfazer de todos os problemas que me afligiam, que me torturavam como se uma navalha afiada estivesse me roçando o corpo, como se alguém estivesse me pondo no canto da parede. Eu sofria, isso é verdade, eu não sabia o que fazer com tantos problemas, estava à procura de soluções e não encontrava, resolvendo ir até a praia, talvez encontrar alguém para desabafar, mesmo que fosse um estranho, mas ela estava vazia, eu não via ninguém com quem pudesse compartilhar a minha dor, expor meus desejos, ouvir um conselho qualquer. Vazia, a praia estava vazia, apenas o barulho das ondas, a espuma branca chegando aos meus pés descalços, o sussurro do vento no meu ouvido como se quisesse me dizer algo. A água fria da manhã até me aliviava o cansaço dos pés, o sol ainda fraco me presenteava com um clima agradável.

Tempos atrás eu era diferente, tinha planos para o futuro, tinha um trabalho digno, uma família que me amava, amigos que me valorizavam, mas tudo isso foi perdido, não foi considerado por mim, que preferi conhecer o mundo, viver ao meu modo, conhecer novas pessoas. Esse mundo não era apropriado para mim, que só vim a entender isso anos depois, quando a infelicidade me fez uma visita, quando a doença apareceu, quando toda a minha vida parecia estar por um fio. Reconheço que foi muito difícil, que perdi o que mais queria, estando agora à procura de uma solução para combater esse mal.

O mar estava lindo, em tom esverdeado, com ondas se quebrando na areia, uma beleza sensacional que só eu estava a admirar nessa praia deserta. Foi nesse momento que tive um impulso quando olhava para o céu azul sem nuvens, foi nesse exato momento que imaginei todos os meus problemas, juntei tudo e joguei para o alto para se transformarem em fumaça, deixando o meu corpo livre, com o pensamento elevado ao Criador do Universo. Após esse desejo forte, que saiu de mim como que impulsionado por uma força estranha, eu me senti mais aliviado, respirava com um certo prazer, sentia minha alma flutuando naquele local só meu. Uma onda de prazer tomou conta de mim, me senti inesperadamente outra pessoa, foi como se uma presença confortante estivesse do meu lado, me mostrando o lado bom da vida, o que resolvi aproveitar, “ouvir” esse conselho. Continuei caminhando na praia, que agora não estava mais deserta, pois vi algumas pessoas pra lá e pra cá, me fazendo crer que elas estavam ali e eu não havia percebido, como se me tivessem dado uma chance de ficar só a pedir a Deus para acabar o meu sofrimento. E ele acabou mesmo, pois agora eu estava caminhando em paz, rumo a uma nova vida. Olhei instintivamente para o céu e vi uma fumaça meio escura se dissipando no ar, meus olhos pareciam querer verterem lágrimas que consegui segurar por momentos, mas foi impossível evitar que elas se misturassem com as águas do mar.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 08/07/2013
Reeditado em 08/07/2013
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