DECISÕES PRECIPITADAS, IRREFLETIDAS
Pede-me o Prof. Raimundo Antônio que lhe mande uma crônica para a Gazeta do Oeste do próximo domingo, na qual fale sobre alguns aspectos da Mossoró do passado. Não tendo como fazê-lo agora, envio-lhe este texto que acredito seja do interesse de poucos dos leitores desse excelente jornal diário mossoroense.
Não sei se o título é apropriado para esta crônica; se, com ele, o leitor vai entender, ou se vou expressar corretamente a insensatez de certas decisões que pratiquei, asneira que qualquer pessoa pode cometer em momentos de imprudência.
Sempre gostei de guardar coisas que julgava – e ainda faço isso - um dia poderem ser-me proveitosos como documentos que utilizaria para eventuais consultas, ou simples objetos de curiosidade: cartas recebidas de amigos, números especiais de revistas, recortes de jornais, fotos antigas (da família, de pessoas amigas, de acontecimentos, etc.). Em virtude dessa “mania”, possuo coleções que não acredito que alguém tenha igual. Desde a adolescência, gostava obsessivamente de ler. Um dia comprei um caderno e fui anotando os títulos dos livros, seus autores, data de início e conclusão da leitura. Hoje, não tenho mais muitos dos livros que li naquela fase. Pois não é que um dia, julgando o caderno um trambolho em meio a tantos papéis, joguei-o fora?!
No tempo da II Guerra Mundial, guardei todos os jornais e revistas que me chegavam às mãos e que continham fotos alusivas a esse conflito: navios naufragados, fotos de generais que se destacaram, presidentes ou ditadores dos países envolvidos, de batalhas travadas, tiradas por repórteres de guerra (que arriscavam suas vidas a fim de as mandarem para os jornais que representavam), todas, enfim, que se relacionavam com a guerra, eu ia recortando e colando-as num caderno tamanho ofício até enchê-lo, constituindo quase uma história fotográfica dessa guerra iniciada por um louco, conflito que durou cinco anos e dizimou muitos milhares de vidas, de jovens soldados e de civis, nos combates e nos bombardeios incessantes sobre os campos de batalha ou sobre cidades milenares. Quem leu os livros “Nada de Novo no Front” e “Depois...”, de Erick Maria Remarque, sobre a 1ª Guerra Mundial, pode ter uma ideia do horror de uma guerra. Imagine o pavor que foi a 2ª Guerra. Há muita coisa escrita sobre esse conflito, inclusive no livro “De e Sobre Rafael Negreiros”. É impressionante o conhecimento que Rafael (meu conterrâneo, contemporâneo e amigo) tinha a respeito, tudo contado nesse excelente livro. Pois esse caderno, organizado com tanto zelo, também um dia insensatamente joguei fora.
Todos os boletins de informações de minhas notas no Ginásio Diocesano Santa Luzia; todos os contracheques do meu salário no Banco do Brasil (ainda conservo desde os de maio de 1993); as informações expedidas pelos Inspetores do Banco do Brasil em sua função de fiscalizar os serviços das agências, avaliando, no caso, o meu desempenho nas funções de Chefe da CREAI, como Subgerente e no cargo de Gerente em Mossoró, até dezembro de 1972, e em Caruaru, de fevereiro de 1973 a julho de 1976. Ainda guardo a minha “fé-de-ofício”, que é o histórico de minha vida funcional. Tenho uma coleção de fotos do funcionalismo da filial do Banco do Brasil em Mossoró, desde a sua fundação, em 02.12.1918 até dezembro de 1973, e, em Caruaru, de fevereiro de 1974 até julho de 1976, coleção que ninguém tem. Possuo ainda a coleção completa do semanário “O Commércio de Mossoró”, fundado e dirigido por Bento Praxedes, desde 17.01.1904 a 29.12.1907; do jornal “A Escola”, de 31.05.1933 a 06.06.1941; do “O Festeiro”, que era um jornalzinho humorístico que circulava nos dez dias da festa de Santa Luzia, sob a responsabilidade de vários jovens, coleções essas organizadas pela “Fundação Vingt-un Rosado”, constituindo tais coleções valiosos subsídios para quem se preste a escrever a história econômica, social e cultural de Mossoró. Tenho também vários outros documentos, antigos e raros, que não vou mencionar aqui para não alongar ainda mais este texto.
Pois é, às vezes, a gente tem momentos de idiotismo. Eu os tive quando rasguei o caderno em que anotava os livros que lia e quando botei fora o caderno (tamanho ofício) no qual guardava as fotos da II Guerra Mundial, inclusive uma pasta onde punha interessantes recortes de jornais. Besteiras (desculpem-me a expressão) de que hoje me arrependo demais, pois estão me fazendo falta agora que estou querendo dar a minha contribuição para a história de Mossoró, onde nasci e morei, melhor dizendo, VIVI praticamente meio século, tendo conhecido, nesse período, muita gente e testemunhado muitos acontecimentos.
Agora, que poderia revelar às novas gerações episódios interessantes que testemunhei, e falar sobre personalidades que se destacaram, uns mais outros menos, na história da terra natal, constato quanto poderiam ser-me úteis aqueles papeis velhos jogados fora, pois boa parte da história é feita com base na descoberta de antigos papiros ou em depoimentos das pessoas que, como eu, tiveram o privilegio da longevidade.