Carta do demônio ao pastor Marcos Feliciano

Inferno, 21 de junho de 2013.

Prezado pastor (a), deputado (a) e instagramer Marcos Feliciano,

A princípio, quero lhe dizer que estou orgulhoso pelo papel que o senhor (a) tem desempenhado aí na Terra. Tem sido uma luta e tanto. Mas, ainda assim, você se mantém impecável e poderoso (a). Coloquei a vogal “a” entre parênteses porque, apesar de ter transpassado gerações e dimensões, ainda me confundo com as distinções de gêneros que os humanos usam para separar a si próprios. Por isso a ausência de um gênero absoluto.

Parabenizo vossa excelência e o deputado João Campos pelo projeto apelidado de “Cura Gay”. Ele, pela criação da proposta, e o senhor (a) por ter aprovado o texto na comissão que preside, a dos Direitos Humanos.

Senti-me profundamente aliviado ao saber da possibilidade da homossexualidade ser classificada como patologia. Você não imagina como tem sido difícil, para mim, durante todos esses séculos ser responsabilizado pela quantidade de homossexuais existentes na Terra. Ainda posso ouvir as vozes de todas aquelas velhinhas cristãs usando meus piores apelidos para se referir aos gays.

É cansativo, sabe? Já levo a culpa por muitas coisas. E tudo isso começou com o fanatismo cristão na idade média. Tudo era culpa minha. Se a pesca fosse escassa, a culpa era do “coisa ruim”. Se a colheita não rendesse, a culpa era do tinhoso. Se ocorresse um eclipse, a culpa era do belzebu... Creio que vocês, humanos, estão a anos de luz de chegar a um consenso e a atingir o máximo da inteligência que o cérebro da espécie permite. Mas, pelo menos, já estou fora dessa.

Não sou santo, confesso. Mas também não posso levar a culpa por tudo que acontece aí, no planeta azul. O fortalecimento da fé na ciência, e não mais nos dogmas do cristianismo, em meados do século dezenove, tirou um pouco dos problemas do mundo de cima meus chifres, ao explicar alguns acontecimentos naturais, a exemplo da esquizofrenia, muito confundida com as ações dos meus “espíritos imundos”, como vocês próprios gostam de chamar. Eu prefiro defini-los como espíritos que outrora foram humanos desprezíveis.

Mais uma vez, deputado (a), agradeço ao senhor (a), que possuído pelo ritmo “ragatanga”, e não pelos meu filhos, aprovou o “Cura Gay”. Espero logo ver vossa excelência e seus seguidores por aqui. Estou vos esperando.

Beijos do Capiroto.

Paulo Marinho Junior
Enviado por Paulo Marinho Junior em 22/06/2013
Reeditado em 27/06/2013
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