SER OU ESTAR? EIS A QUESTÃO

SER OU ESTAR? EIS A QUESTÃO.

O projeto apelidado de “Cura Gay”, aprovado pelo presidente da Comissão dos Direitos Humanos, pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), tem fervilhado opiniões país afora. Mas não somente. A resolução – seja você a favor ou não – causa imbróglio, também, nos tempos e modos verbais da língua portuguesa.

Antes de existir toda essa discussão circular sobre o caráter patológico ou não da homossexualidade, dizia-se, no presente do indicativo do verbo “ser”, “eu sou gay”, assim como se diz, por exemplo, “eu sou Corinthians”, “eu sou feliz”, “eu sou pobre”.

Era só o presente do indicativo que representava o modo verbal do substantivo gay, no que se refere a condição sexual. Era absoluto. Não havia espaço, por exemplo, para o futuro do presente: “eu serei gay”. Era oito ou oitenta.

Agora, caso seja aprovada, pela Câmara e pelo Senado, a proposta que garante liberdade de atuação aos profissionais de psicologia em busca da suposta cura gay, o correto a se dizer, no presente do indicativo do verbo “estar”, passa a ser “eu estou gay”, considerando que o texto da resolução sugere a homossexualidade como uma doença passível de cura.

Mas, nesse caso, não só o presente do indicativo do verbo “estar” representaria os gays como citado antes. O pretérito perfeito, ainda que estranhamente à maioria, também representaria, como na frase “eu estive gay, mas não estou mais”. Ou, ainda, no futuro do presente: “eu estarei gay”. Coisa que não existia antes.

Em meio a bizarrices, a proposta do "Cura Gay", sobretudo, confunde homossexuais e héteros. Para evitar incômodos, sugeriria a Feliciano elaborar uma cartilha de orientação sobre os tempos e modos verbais politicamente corretos a serem utilizados antes do substantivo gay daqui pra frente. Penso até que seria mais fácil para o gay "sair do armário".

- Pai, mãe, tenho que lhes contar uma coisa.

- Diga, meu filho.

- Eu estou gay. Mas não se preocupem. Tem cura.

É Lamentável que o deputado Feliciano, tão vaidoso e preocupado com detalhes – como o ânus alheio -, tenha esquecido de analisar este pormenor. Entre "ser" e "estar" existe um grande abismo.

- Com licença, desculpe-me a inconveniência, mas vi você segurando a xícara pela alça apenas com o dedo indicador e o polegar. Fiquei curiosa (fitou dos pés à cabeça). O senhor é gay?

- Veja bem como fala, senhora. É apenas um sintoma. Não sou gay. Eu estou gay. É diferente. E que isso fique bem claro.

Paulo Marinho Junior
Enviado por Paulo Marinho Junior em 22/06/2013
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