SERÁ ?
Os recentes acontecimentos, que, em seu nascedouro, pareciam fadados a discutível sucesso, de repente assumiram dimensão nacional, cresceram exponencialmente e alcançaram até a imprensa estrangeira e, talvez, unicamente no mundo, conseguiram deflagrar movimentos semelhantes em outros países,num gesto de solidariedade.
A reação inicial foi contra o aumento, ilusoriamente ínfimo, do preço das passagens dos coletivos, mas, em seguida, ampliou o foco e , à medida que foi obtendo a aprovação de toda a população, passou a expor e atacar as pragas que envenenam a sociedade: corrupção indecente e impune, insegurança, saúde pública, nepotismo, transporte ineficiente que obriga o pobre trabalhador a levantar-se de madrugada para poder chegar ao trabalho 2 ou 3 horas depois, o fantasma da inflação voltando a afligir, a torpe inversão de valores que possibilita absurdos salários a quem produz menos, em detrimento dos que são a base social em que temos de nos apoiar (médicos, professores, engenheiros, arquitetos, cientistas e que tais), o privilégio inadmissível de algumas castas, que legislam em causa própria, com um regime de trabalho e política salarial especiais, numa covarde afronta à classe trabalhadora, que rala 30 anos para acabar morrendo à míngua com uma miserável aposentadoria.
Os pontuais focos de vandalismo empalidecem, amesquinham-se, ante o contundente e espantoso desfile de mais de 100.000 pessoas que, ordeira e literalmente cobriram toda a extensão da Av. Rio Branco, numa demonstração apartidária jamais vista, fato que ocorreu, também, em mais de 11 capitais e dezenas de municípios do interior.
A mim parece que a sociedade brasileira, à semelhança de uma panela de pressão, está com a sua válvula de segurança prestes a romper-se e, se isso ocorrer, será muito bom alertar aos governantes que, como sucede com uma boiada, calma quando embalada pelo sereno aboio do vaqueiro, pode explodir no minuto seguinte e estourar de forma incontrolável.
As pacíficas manifestações devem continuar; o recuo dos mandantes aconteceu na primeira reivindicação; será que a hora é essa?
(não deixe de ler o colega jornalista Carlos da Costa)