MEU TRABALHO NO CAIS
A lua cheia clareava o cais, a noite já ia alta e o silêncio era o meu companheiro. Eu estava sentado próximo a balança rodoviária do porto, era o intervalo entre os dois expedientes noturnos, alguns caminhões aguardavam na fila para pesarem seus produtos. Os motoristas ficavam nas cabines ouvindo rádio ou do lado de fora conversando com os companheiros. No meu silêncio eu admirava algumas luzes no mar, navios que estavam ancorados aguardando autorização para atracarem. Um cafezinho quente aliviava o frio da noite, os meus pensamentos me tiravam algumas vezes da realidade e eu não via a hora de terminar o segundo expediente para cochilar um pouco enquanto não amanhecia. Uma embarcação pequena passou e alguns tripulantes conversavam em voz alta, mas não dava para distinguir o que falavam. Fiz uma crítica mental a eles, atrapalharam o meu sossego, afugentaram por breves minutos o meu companheiro, o silêncio. Felizmente foi por pouco tempo e eu me vi novamente em tranquilidade, olhando a lua que vez ou outra se escondia atrás de nuvens.
Após o segundo expediente, depois de pesar vários caminhões e preparar o relatório de pesagens, o cansaço já era evidente e eu me deitei em um banco forrado com papelão. Duas listas telefônicas serviam como travesseiro e enfim eu pude esperar o dia amanhecer, já que o trabalho se encerrava às quatro da madrugada. Acordava com o sol batendo em meu rosto pela fresta da cortina na janela de vidro com grade do lado de fora.