LEMBRANÇAS DO PORÃO 842
LEMBRANÇAS DO PORÃO 842
Na última semana de novembro de 2003, a Prefeitura de Belém, promoveu o IV MARSEMB - IV Mostra de Artes do Servidor Público Municipal de Belém, que é um projeto manifestado por ações lúdicas, que buscam dar valor e agregar culturalmente o servidor estimulando-o à criatividade artística, e a sua participação cidadã. Referida mostra aconteceu no “IAGE – Instituto Amazônico Germânico” localizado na Avenida Magalhães Barata nº 842- São Braz, no período acima citado.
Como funcionário municipal, participei do evento apresentando algumas obras literárias de minha autoria, que ficaram expostas para a apreciação dos visitantes do IV MARSEMB. Por motivos alheios a minha vontade, não tomei parte do dia da abertura, mas alguns dias após, eu e minha esposa fomos visitar a exposição. Qual não foi minha surpresa, ao deparar o endereço do IAGE, quase vim às lágrimas, ao adentrar naquele imóvel, que na década de 70 do século passado, foi nossa morada.
A emoção de estar ali naquele prédio, foi maior de que emoção do artista em ver a sua obra exposta para o deleite dos visitantes. De repente, uma viagem ao passado, o relógio do tempo funcionando ao contrário, o retorno a década de 70 do século XX, me vi ao sabor das ternas e alegres lembranças vividas naquela casa.
Ali naquele porão, ouvi o Brasil ser “TRI-CAMPEÃO” de futebol, isto é, ganhar a copa do mundo pela terceira vez e ficar com a posse definitiva da “TAÇA JULES RIMET”. O nervoso era tanto, que resolvi me afastar dos demais familiares, que estavam torcendo na sala, onde ficava um potente rádio “Phillips”, indo para o porão da casa, onde armei uma rede e fiquei escutando o jogo, num pequeno rádio de pilha. Para após o apito final, explodir em alegria, juntamente com setenta milhões de brasileiros. Todos em casa choravam abraçados gritando “Brasil! Brasil! Brasil!”
Minha mãe como das outras vezes, (1958 e 1962), chorava copiosamente lembrando familiares já falecidos, que com certeza estariam vibrando naquela ocasião se vivos fossem. Depois, eu e meu irmão Raimundinho, ainda adolescente, fomos até a Praça da República, local das concentrações populares naquela Belém dos anos 70, para festejar a conquista definitiva do “caneco de ouro” e a supremacia brasileira no esporte bretão.
Depois, fui lembrando outros fatos que vinham a minha mente, como um “vídeo-tape”, A nossa mudança para aquela casa num dia de chuva fina em Belém, em que ficávamos a esperar o caminhão com a nossa mobília, e não víamos a hora de armarmos nossas camas para dormirmos a primeira noite no novo endereço.
As noites passadas em claro, estudando para o vestibular, juntamente com a turma do porão 842, como o nosso grupo de estudo era conhecido naquele ano de 1970, Eu, minha irmã Maria Cristina, minha prima Fátima, o Paulo Rodnei, a Célia, a Maria do Carmo, o Antônio Louro, o Augusto Rezende, o Elói Cardoso, a Inezila.. O cafezinho e as torradas feitas com muito carinho pela minha mãe e que ficaram famosas naquele circulo estudantil. O resultado do vestibular, a minha aprovação tão esperada, pois era a quarta tentativa que fazia, para ingressar na UFPA. A festa só não foi mais completa, porque nem todos obtiveram sucesso naquele ano.
Em seguida lembrei-me das bodas de prata de meus pais, com a missa na igreja dos capuchinhos, seguida de uma simples porém requintada recepção, aos parentes e amigos mais íntimos da família. A casa com todos os compartimentos iluminados como estava naquele momento da recordação. Meus pais, muito elegantes para a ocasião, recebendo a todos os convivas que participaram dos festejos, dos vinte e cinco anos de união conjugal naquele inesquecível dia 21 de fevereiro de 1972.