CRÔNICAS BONAERENSES (60º dia) - Negocio da China!
Se tu não és daqueles que não come comida chinesa, não pense em morar em Buenos Aires! Sim, pode parecer contraditório, mas no país da parrilla, das empanadas, das massas, da media luna, dos alfajores, da carne boa e da erva amarga, quem manda no prato diário do argentino é a comida chinesa.
Claro que estou generalizando. A classe alta provavelmente se refestela com uma com uma carne de gordura crocante do asado de tira acompanhado por um bom vinho malbec de Mendoza, quase que diariamente. Mas a vasta maioria do povo, ao invés de escolher os caríssimos mega mercados como o Coto, o Carrefour ou o Disco, prefere o que eles chamam de “chino”. É um mercado que sempre – impreterivelmente – tem chineses trabalhando. Ali é bem mais barato, principalmente o presunto e o leite. Assim que os chineses faturam vendendo produtos argentinos.
Mas o mais barato de tudo para se alimentar em Buenos Aires é comer num restaurante chino. É exatamente como os buffets a quilo de Porto Alegre. A comida, que mescla características chinesas e argentinas, fica ali, à mostra, com o perigo de ser conspurcada por um espirro ou uma mosca determinada. Nada importa. O preço é bom e o que os olhos não veem o paladar não sente.
Será que os chineses encontraram aqui uma ilha de prosperidade? Pois se vê que eles não são de contubérnio com argentinos. Ficam entre eles, falando o idioma deles, fazendo o trabalho deles. E trabalham demais. Enfim, para morar em Buenos Aires não precisa falar chinês mas, mais cedo ou mais tarde, mais dia menos dia, tu vais te encontrar comendo ou comprando num chino. Ah, vai!
--------------------------------------------------------
Está chegando ao fim o Campeonato Argentino – Clausura – e há preocupação nas duas pontas da tabela. No próximo final de semana, o Independiente pode cravar uma mancha em sua imaculada história e ir para a série B. Já o River, que tinha tudo para vencer ao fraco time do Argeninos Juniors, viu escapar-lhe por entre os dedos a chance de virar líder do Campeonato faltando 3 rodadas para o fim, para conquistar um título, coisa que há muito não faz. O líder segue sendo “a Lepra”, os coperos do Newell’s Old Boys, que além de liderarem o Clausura, ainda têm tudo para sair com a Copa Libertadores.
Mas o mais comentado segue sendo o Mundial de 2014 no Brasil. Algumas críticas aos estádios, alguns elogios. Mas a preocupação é com o jogo de sexta pelas eliminatórias. A alve-celeste pode ter de enfrentar à Colômbia sem Messi, lesionado. Mesmo jogando em casa, aqui Em Buenos Aires, jogar sem Messi é sempre jogar como um visitante preocupado.
--------------------------------------------------------
¿Qué pasa, Fábio?
Escrevo estas crônicas para meus amigos, para quem quer saber como segue minha vida e para mostrar uma visão porto-alegrense de Buenos Aires (não de turista). Mas, acima de tudo, escrevo por escrever. Sempre fui assim. Desde que ganhei de meus pais um livro da Martha Rocha, que tem nome de torta mas é escritora, peguei gosto por ler e escrever. Fui um leitor e escritor temporão. Alfabetizei-me sozinho e comecei a escrever histórias em forma de gibi na tenra idade. Assim, escrevo! Escrevo para não perder o costume! Escrevo para contar o que passo! Mas, principalmente, escrevo pelo amor à literatura! E os que não quiserem ler, não leiam e, se quiserem, me peçam que eu não os marco mais por aqui.
--------------------------------------------------------
Segunda-feira e já tenho duas entrevistas de emprego para a semana! Essa promete!
--------------------------------------------------------
Sempre disse que a vida de morador é diferente da vida de turista, e cada dia comprovo mais isto. Meus dias não são de passeios na Recoleta, de parrillas em Puerto Madero e caminhadas pelos bosques de Palermo. No. Minha vida tem sido mais de limpar o banheiro, lavar roupas, fazer compras... os outros momentos são raros.
Mas estou feliz aqui, certamente mais feliz que em Porto Alegre. Não posso negar que, em diversos momentos, a solidão bate na porta, a tristeza me abraça forte e eu me ponho a chorar na penumbra do meu quarto. Afinal, a vida é feita de dor e sofrimento, com alguns parcos momentos de alegria. Temos que aprender a viver assim. Sinto-me triste quando algo dá errado, quando sinto medo de não prosperar aqui, quando discuto com alguém que não queria. Mas, quando me pego cantando de madrugada pela rua, quando faço alguma amizade nova ou quando aterrissa em minha mesa uma pinta de India Pale Ale bem cremosa, acompanhada por uma picada de fiambres, me encontro outra vez e reencontro a felicidade que vim buscar aqui. E vou me reencontrando todos os dias.
Todos sabem o quão difícil vai ser para mim esta semana. Não vou tentar não pensar, não lembrar, não sofrer e não chorar. Vou simplesmente aceitar que a Terra deu uma volta no Sol e tocar minha vida. Afinal, a vida é dor. A dor te muda, te deixa mais duro e mais solitário. Mas assim vou sobrevivendo, vivendo por estes flashes de alegria. Quase morrer não muda nada. Morrer muda tudo. E mudou.
--------------------------------------------------------
Coincidências?
Já vai fazer um ano. Esta primeira foto, com os cachorros passeando, era o fundo de tela do meu computador, em Porto Alegre. Eu coloquei como uma meta de vida. Quero um dia morar em Buenos Aires e ter um café como este. Hoje, morando em Buenos Aires, aproveitando que é Meat Free Monday saí com minha amiga Bárbara, que é vegetariana, com o objetivo de não comer carne. Qual não foi minha surpresa quando ela falou do tal café, o que era meu fundo de tela e meu objetivo de futuro! Sempre fui muito taciturno em relação ao futuro, principalmente este futuro. Mas hoje, vendo que a vida acontece, as coisas andam, a estrada leva até mesmo o errante ao rumo certo, posso empertigar-me e dizer: não existem coincidências. Nós escolhemos o futuro... esteja ele no fundo de tela do teu computador ou na esquina da tua casa. (Abaixo, as fotos)
--------------------------------------------------------
Dica da semana:
Breoghan Brew Bar (http://www.facebook.com/breoghan?fref=ts) – Procurando por hambúrgueres de verdade em Buenos Aires – e não só aqueles de McDonalds e Burger King – encontrei um blog falando deste perfeito Irish Pub aqui perto de casa. As cervejas artesanais são criadas no próprio pátio do bar e as hamburguesas são demais! Minha dica é provar a I.P.A. San Telmo Fire acompanhada de uma Hamburguesa Cervezera!