De Mãe para Filha
 
      
     Sinto tanto a sua falta, minha menina com quem sonhei a vida inteira... 
     Lembro-me do seu sorriso escancarado e das brincadeiras quando me levantava para o alto. Sinto saudade até das noites mal dormidas esperando que você voltasse para casa alta madrugada.
     
     Fecho os olhos e vejo-a fazendo molecagens...  Nunca me esqueço daquele 1º de abril quando eu ainda dormia e você, antes de sair para a faculdade, colou um bilhete no espelho do banheiro dizendo que atendera um telefonema informando que o meu chefe havia falecido. Foi um grande susto e não sabia o que fazer: ligava para sua residência a fim de me informar ou não?Então decidi ligar usando uma desculpa qualquer, sem mencionar o bilhete.  A esposa dele me disse que tudo estava bem e que ele havia saído para o escritório. Fiquei feliz, mas completamente sem graça e envergonhada; porém não consegui ficar com  raiva, apenas sorri.
    
     Recordo quando íamos às discotecas e dançávamos até nos acabar. Você tinha muito  fôlego e eu  quase morria, mal conseguindo acompanhá-la naquelas doideiras.
   
     Sua alegria era contagiante, minha menina dos cabelos louros encaracolados! Decorridos doze anos que você, moleca, partiu deixando-me sozinha, não consigo me esquecer dos bailes da empresa a que íamos juntas... para me animar, você, tão franzina, levantava-me para o alto, só de brincadeira, fazendo traquinagem.
       
      Lembro-me quando você, que não podia beber, era vestibulanda e foi a uma festa de aniversário de um colega por quem era apaixonada e bebeu todas. Quando finalmente chegou a casa eu estava quase arrancando os cabelos de tanta preocupação; você estava bêbada e não parava de vomitar. 
 
     Ao lembrar-me disso, lágrimas escorrem pelo meu rosto ao mesmo tempo em que sorrio, porque tudo foi hilariante. Fiquei desesperada, não sabendo o que fazer para que parasse de vomitar e resolvi  nada fazer, só esperar que o efeito do álcool passasse. Coloquei uma bacia perto da sua cama e mantive-a sentada para que não dormisse. Assim passamos a noite toda, até você ficar bem.
   
      Oh, minha menina, não consigo deixar de sorrir, na cozinha, porque você reclamava quando eu cometia certos atos incontroláveis, dizendo-me "puxa, mãe, até na cozinha"?
  
   
 
     É, filha, não vejo a hora de podermos estar juntas novamente! Será? Espero que Deus ouça as minhas orações e deixe-a me esperando!
   
     Você jamais poderia ter-me abandonado, pois era o meu ponto de equilíbrio.
   
     Onde quer que esteja, receba o meu beijo cheio de saudade.
    
     Mamãe
 
Maria Tomasia
Enviado por Maria Tomasia em 09/06/2013
Código do texto: T4333570
Classificação de conteúdo: seguro