MEUS AMIGOS, MEUS IRMÃOS

Filho homem de meu pai e de minha mãe, só tive um irmão. Chamava-se José, José Augusto Rodrigues, professor e advogado, quase dez anos mais velho do que eu. Costumo dizer que, depois do meu pai, foi ele o meu melhor amigo. Nunca brigamos. Era um meu paradigma de vida, um exemplo de obediência aos nossos pais, de amor às nossas irmãs, de gosto pelo estudo. Perdi-o em 29.12.1995, faltando 17 dias para completar seus 80 anos. Lembro quanto sofreu: primeiro, teve um filho covardemente assassinado quando estava, à noite, na calçada da casa da noiva, em Mossoró, fato que modificou radicalmente os destinos da sua vida, forçando-o a vir morar em Natal. Anos depois, em decorrência de um acidente de automóvel numa de suas frequentes viagens a Mossoró, nossa terra querida, no qual perdeu a esposa, ele ficou, como se diz popularmente, no couro e no osso. Alguém o convenceu a ir a Brasília, ao Hospital Sarah Kubitschek, cujo Diretor na época era o Dr. Aloysio Campos da Paz. Graças a Deus e à competência desse grande médico, meu irmão recuperou a saúde e até chegou a casar-se novamente. Depois, em consequência de uma desastrosa queda, teve que passar 21 dias na UTI de um hospital. Novamente, Deus o recuperou.

José gostava muito de passar os fins de semana em sua granja, no Jiqui, onde hoje se erguem vários condomínios na chamada Nova Parnamirim; eram os lugares dos quais mais gostava: sua casa na praia de Tibau, a 40 km de Mossoró, e essa granja. Sempre que podia, eu estava lá, aos domingos, lhe fazendo companhia e ouvindo suas muitas estórias.

Infelizmente, o destino lhe pregaria mais uma peça: apareceu um câncer em seu estômago e os médicos o convenceram a operar-se, mas não foi bem sucedido. Eu e Brasília íamos sempre visitá-lo, acompanhando seu sofrimento. Uma vez, chegamos a sua casa e lá estavam dois dos seus muitos amigos, que lhe contavam, a seu próprio pedido, algumas piadas, de que ele gostava. Eu admirava a sua conformação com o sofrimento: certa vez cheguei lá e não tinha palavras para conversar. Então ele me disse: “Obery, conte uma anedota.” Meu Deus, que anedota eu poderia contar àquele homem tomado de dor?! A emoção me dominou e, a custo, com lágrimas nos olhos, só pude dizer: “José, eu não sei de nenhuma anedota”. E ficamos em silêncio. Poucos dias depois, Deus o levou.

Mas, até agora falei no meu irmão de carne, mas tive outros irmãos queridos: João Berchmans, Seutônio Câncio, Antônio Salem, José Genildo, Alcínio Miranda, César Leite, e mais quatro que fiz quando morei em Caruaru: Arlindo Porto, José Carlos Coutinho, João Machado (já falecidos) e Oscarlino Laranjeira (o único ainda vivo), os quais eu considerava como irmãos. Porque para se ter alguém como verdadeiro amigo/irmão é preciso que haja total identificação de afinidades e sentimentos. Dos constantes do livro que escrevi, denominado “Memorial de Amigos”, ao todo cento e cinco, apenas uns quinze estão vivos. Na verdade, tinha-os como AMIGOS pela convivência, embora nem todos pudesse ter como IRMÃOS. Ah, no outono da minha vida, de qualquer forma, quanta falta me fazem eles!

Bom, todo esse preâmbulo para escrever que meus irmãos e irmãs não são apenas aqueles que tive dos mesmos pais, mas todos que conheci, dos mais ricos, de prestígio social, ou os que detiveram ou detêm algum poder político, mas aquelas pessoas humildes que frequentavam a casa dos meus pais ou os que frequentaram a minha casa em Mossoró, onde nasci e morei por quase 50 anos, em Caruaru, ou aqui em Natal. E confesso, com toda a sinceridade de minha alma, que tinha mais estima por estes e sei que eles também me queriam bem, pois tive provas disso; prosava com eles com a intimidade que não tinha com a grande maioria dos outros.

Esta crônica que agora escrevo, no entardecer deste sábado, foi sob a emoção da fala do Pe. Joãozinho, que ouvi pela manhã, e da homilia do Pe. Fábio de Melo na missa desta tarde, na TV Canção Nova, verdadeiras lições de sabedoria sobre o sentido da vida, sobre a veleidade e a fugacidade do poder; sobre a inutilidade da riqueza material; a respeito das vaidades vãs; sobre a necessidade e importância do amor ao próximo, que é nosso irmão. O nosso grande e insubstituível irmão foi e é JESUS, foi e será sempre Ele, pois todos somos filhos do mesmo Pai; e quanto Ele nos amava! Quem Ele escolheu para serem Seus apóstolos e seus amigos? Pessoas humildes, inclusive uma prostituta, que foi Maria Madalena.

Pois é, você, que porventura me lê, você é meu irmão ou minha irmã e, consequentemente, meu amigo ou minha amiga.

Não posso concluir sem agradecer a Deus por todos os meus filhos, pois são, naturalmente, meus irmãos e amigos.

Natal, sábado, 1º.6.2013

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 05/06/2013
Reeditado em 05/06/2013
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