Cena do Dia-A-Dia

Cena do Dia-a–DIA

- Meu Deus do céu! Entreti-me aqui, na beira deste tanque, com este roupeiro todo para lavar, e já está quase na hora de o banco fechar! E o pior é que ainda tenho que tirar o extrato, antes de fazer o depósito! Êta trem! Todo mês é a mesma agonia! Não consigo decorar aquela desgrama e tenho que pedir a alguém para me ajudar! Por que não fazem uma máquina mais fácil, para gente mexer? O meu marido tirava isso de letra! Mas ele se foi.

E lá se foi a dona-de-casa para o banco, cansada da lida do dia, ajeitando os cabelos, andando depressa e falando com seus “botões”, pela rua a fora:

- Ufa! Ainda bem que cheguei a tempo! Uai! Que coisa estranha! Aquele guarda magrinho e simpático, que sempre me cumprimenta quando eu chego, não está na porta! Coitado! Também, ele não é de ferro! Deve ter ido tomar água ou ao banheiro, quem sabe... Ué! Que silêncio de morte aqui dentro! Creeeeedo! Está todo mundo parado, teeeeeeso... Eu hem! Vê se aqui no banco é lugar de brincar de estátua! Este povo tem cada uma! Ah, como não tenho nada com a vida desta gente esquisita, vou largar para lá e enfrentar logo aquela “bendita” maquininha!

E lá no canto, no Terminal de Extrato, que para ela é um bicho-de-sete-cabeças, muito pior do que o chupa-cabras, a mineira olhou para um lado e para o outro e não viu uma viva alma por perto.

- Mas será o Benedito?! Logo hoje, não tem ninguém para me ajudar. Que diacho, sô! O jeito, agora, é tentar tirar o extrato sozinha, mesmo. Quem sabe, desta vez, eu consiga. Ai, meu Deus! Como o Severino me faz falta! É como diz o ditado: ruim com ele, pior sem ele.

Nesse meio tempo, enquanto ela queimava os neurônios, apertando todas as teclas, veio um senhor gordo, de cabelos grisalhos, andando abaixado e puxou a sua saia. Pensando que se tratasse de um aleijado, a mulher se abaixou e o homem disse baixinho no seu ouvido: é – um – as – sal - to.

Dona Carminha se levantou apavorada e começou a gritar:

- Socorro! Socorro! Tem um assaltante aqui dentro! Socooorro!

Imediatamente, aproximou-se um rapaz moreno, bem vestido, troncudo, mal-encarado e muito nervoso, dizendo:

- Cale a boca, titia! Fique quieta, senão, leva um tiro no meio da testa!

- Tiiiiiiro?! Eeeeeeeu?! O ladrão não sou eu, não! É aquele homem abaixado, ali!

- Não estou lhe perguntando nada! Fique calada e abaixe-se, também!

- Por quê?

- Porque estou lhe mandando, oras!

- Eu não quero! Estou bem em pé!

- Abaixe-se, logo, droga!

- Mas por quê, moço?!

- Porque é um assalto!

Anna Célia Dias Curtinhas