MAIO MEIO FEIO
Bem que eu poderia escrever qualquer coisa hoje, mas não sei o quê. O dia está calmo, até mesmo monótono, sem sol, meio frio. Nada acontece, não vejo assunto na monotonia. Ainda se sentisse algum tédio, talvez seria um motivo para desabafar, pedir socorro. Mas o tempo passa e pode ser que amanhã eu veja o mundo com outros olhos. É, o tempo passa, cinco meses do ano já se foram, é o tempo que nós todos trabalhamos só para pagar impostos. Para onde vai esse dinheiro, para os políticos? Não, não vou escrever sobre política, política e dinheiro andam sempre juntos. Fecho meus olhos à política, mas abro-os bem diante do dinheiro. Escrever não dá dinheiro, é preciso trabalhar. Não adianta pensar que, escrevendo, a gente vai se tornar um grande escritor e acabar ganhando um monte de dinheiro. E o trabalho, também, nem sempre compensa. Pelo menos isso é o que pensam os malandros. Tem menores que pulam o muro de alguma mansão e logo voltam com a bolsa cheia, além de cometerem alguns horrores no interior da casa. Ladrão que é de menor continua solto, amparado pela lei, se é de maior passa a receber o auxílio-reclusão, que ultrapassa o salário-mínimo. Bandido não escreve poesia, só rabisca bilhete pedindo resgate. Muito dinheiro, celulares na cela, visitas de mulheres na prisão, drogas e drogas. E a gente aqui só escrevendo essas drogas literárias. Não adianta, é tanto desânimo, é por isso que não vou escrever nada hoje.