SOBRE O TEMPO DA FOME

Sobre o tempo da fome.

A fome que se espalha voraz sobre o cotidiano de muitos, mata a necessidade de comer. Contudo, o que almejamos não está em panelas ou em pratos sofisticados: encontramos em todos os lugares, e ao mesmo tempo em lugar nenhum. Não é difícil observar pelas ruas crianças querendo o alimento pro corpo para poder viver, ignorando todo o alimento da alma. Não quero falar de religião, seitas ou crenças de ninguém, quero apenas afirmar que pessoas não precisam só de comida, não precisam só acreditar que um prato de feijão completará o seu dia cansativo, e os levará a uma noite de sono sem fome. A comida deveria cair do céu, a água cai do céu, isso é o mínimo para sobrevivência de uma pessoa, é inconcebível que uma criança tenha que pedir para poder se manter vivo, é inadmissível que o que é derramado do meu prato faça tanta falta para alguém. A terra que devora a carne, também produz a carne que o homem devora, paradoxalmente só temos certeza de que um dia voltaremos ao pó de onde viemos. Um livro, um cinema, uma música, são como um conto de fadas bem distante, um lugar inatingível, cria-se sobretudo uma ilusão de que apenas a comida nos fará homens, nos fará fortes. Enganam-se os que têm gula, enganam-se os que pensam que o que nos trás a força é um prato cheio, tenho plena convicção que o conhecimento trás tantos benefícios para o homem quanto um frasco de vitamina “c”, acredito piamente que quando se escuta uma boa música renascemos por dentro, ler um bom romance nos fás mais sensíveis, até mesmo o simples fato de poder entender o que está escrito numa placa, nos transforma em uma pessoa melhor. Imagine olhar todas essas letras e não entende-las, e não saber como decifra-las, isso deve nos colocar numa posição de extrema inferioridade. Como podemos digerir o pão com uma angústia tamanha, lá debaixo observando as pessoas com um ar de superioridade, apenas por terem sido educadas, por conhecerem as “letras”, por saber o nome daquele cantor que em seus poemas fala da fome e de como o mundo seria melhor sem esse flagelo. Da boca pra dentro temos que mastigar, mas, da boca pra fora, não. Não vou engolir esta hipocrisia de políticos que esbanjam boa vontade da boca pra fora, que esbanjam coragem da sua porta pra dentro, não dão um passo se quer, sem mirarem numa vantagem ou num benefício próprio. Ainda acreditam que fazem pelo povo, o que fariam pelos seus. Esperam recompensas por qualquer atitude, cobram atitude por qualquer deslizes. Acreditam mesmo que pessoas cheiram cola por saber que faz mal a saúde? Não senhores, não. Isso é a falta, a falta do saber, o vazio preenchido com mazelas, o buraco tampado com ignorância. Velamos nosso próprio caminho, construímos nosso próprio lugar, olhando apenas para o nosso umbigo. Cada atitude nossa, é como um tijolo para a próxima morada, o cimento que unirá cada tijolo. Será que vamos construir uma casa digna? Um lar perfeito? Uma fortaleza de justiça? Ou somos tão insensíveis que nem nos tocamos que os próximos somos nós, que o mundo é uma roda gigante: hora em cima, hora em baixo. Refletir sobre alguns problemas, nos exige um entendimento, que só teremos se a oportunidade nos for dada, será que esta mesma oportunidade que recebemos somos capazes de doar? Queremos para nós o que nos foi negado. Então não negaremos ou próximo, o que de certa forma, nos foi oferecido de toda boa vontade. Não sabemos quem nos ofereceu, mas, sabemos que isto pode se perpetuar ou quem sabe se reverter contra nós mesmo. Aí, só então, reconheceremos a fragilidade da vida, e colheremos as sementes que plantamos. M.C. Meira. 23/04/2013.

MAERSON MEIRA
Enviado por MAERSON MEIRA em 20/05/2013
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