“Nosso caráter é o resultado da nossa conduta”.
Aristóteles
Longe da invejável visão de moral e virtude da antiguidade grega, tão presentemente insculpida na obra Aristotélica – vivemos a chamada “Era da Indignidade”. Desprezamos, sem remorso ou pesar, aquele anunciado fim último do Estado defendido pelo filósofo, a tão desejada Virtude.
Em outras palavras, não nos parece ser crível que a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso seja a finalidade precípua daquele Estado, muito menos do contemporâneo.
Nessa toada, indaga-se em provocação, será que a virtude ainda pode ser ensinada? Há entre nós paradigmas, capazes de inspirar-nos a forjamos em nós os elementos ensejadores da virtude aristotélica? Alguns incautos religiosos, sem claudicar, diriam: sim, Jesus!
Todavia, como país laico, não cabe o socorro dos dogmas no exame de temas como os aqui propostos, sobretudo quando sabemos que para os gregos, a virtude não tem nada de cristã. Para eles, virtude é excelência – deriva da palavra grega Arete, portanto, sendo o homem um ser social, deveria reunir certas qualidades que lhe conferisse tornar-se excelente, sendo uma delas, o senso de justiça.
Mas será que nossos paradigmas hodiernos buscam estas qualidades como meio hábil capaz de assegurar a formação de líderes excelentes e, portanto, homens virtuosos? Que saibam diferenciar o justo do injusto, à luz da ética de cada sociedade?
Certamente, a perturbadora avalanche de indagações, aqui propostas, será objeto de detida análise dos leitores e interessados sobre o tema e consequentemente, terá outras abordagens – possivelmente mais técnica e acadêmica, o que não é minha pretensão.
Lado outro, há entre nós, um personagem que recentemente tem ocupado lugar de paradigma para muitos brasileiros e brasileiras, absolutamente carecedores de lideranças verdadeiramente virtuosas e inspiradoras.
Nesse diapasão, ainda que possa ser, e possivelmente em algum nível o é, considerado fenômeno momentâneo de mídia para alguns, nosso virtuoso é Joaquim Benedito Barbosa Gomes, nascido na cidade de Paracatu, noroeste de Minas Gerais. Primogênito de oito filhos., cujo pai era pedreiro e mãe dona de casa. Aos 16 anos lançou-se à vida, trabalhando e estudando concomitantemente, obteve seu bacharelado em Direito pela Universidade de Brasília, onde em seguida, obteve também seu mestrado em Direito do Estado.
Foi ainda Oficial de Chancelaria do Ministério da relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki – Finlândia.
A prodigiosa carreira ainda o levaria ao cargo de Procurador da Republica e a tantos outros, mas talvez nem mesmo o virtuoso Joaquim Barbosa, pudesse crer que alçaria, meritoriamente, o primeiro malhete do judiciário brasileiro, sendo eleito Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
Induvidoso, que esta apertada resenha não pretende promover detalhada apresentação do curriculum vitae do Ministro Barbosa, tampouco sugerir que a virtuosidade do personagem advenha apenas de sua invejável formação acadêmica e profissional. Não, definitivamente, não!
A história do próprio STF, em seu acervo, já nos revelaria com clareza, outros tantos personagens vindos de camadas pobres que igualmente chegaram a Suprema Corte do judiciário brasileiro. Mas aqui, nos detemos, ao personagem que a despeito de alcançar o mais alto cargo do judiciário de nosso país, ainda dá provas de seu animus pela promoção de mudanças estruturais no olhar a ser lançado sobre a condição de ser e estar servidor público.
Joaquim Barbosa, talvez imerso nas memórias lúdicas do menino de Paracatu e ainda, inspirado pelo poder que emana do povo brasileiro, diariamente, pelas ruas de nosso país, tem correspondido com as expectativas deste mesmo povo. E, assim procedendo, igualmente tem reeditado, em cada sessão do Plenário do STF, os ideais de virtude e moral aristotélicos.
Sua atuação, faz-nos valer a crença de que as qualidades morais do homem contemporâneo, se incentivadas e promovidas por meio de instrumentos de formação à cidadania, podem contribuir sobremaneira para forjarmos uma sociedade mais ética e justa, ainda que somente pelo exemplo e atuação de poucos virtuosos paradigmáticos.