Seu caso é de amor crônico
Houve um tempo em que eu estava seguro de que nunca sofreria de amor. Que uma infância inteira de Biotônico e injeções me fariam imune. Que eu teria peito de ferro para quando a epidemia de amor estourasse. Como sou ingênuo. Basta um dia você acordar um pouco mais cansado devido a uma falta de sono na noite anterior para se ter certeza que pegou amor. E você não quer sair da cama, e aperta forte o travesseiro na esperança de ouvir um gemido em protesto. Sintomas fáceis de se identificar.
E as pessoas percebem o amor nas suas olheiras e rosto pálido, e nas suas doses cada vez mais fortes de café. Com um tempo você começa a fungar, e os olhos transbordam tanto que seria ridículo inventar um cisco no olho. É uma virose, os médicos dizem, o negócio é tomar bastante líquido. Então você começa a beber. E pede uma, duas, três cachaças. E começa a ver tudo embaçado. E chora no ombro do garçom. Até que você é convidado a se retirar do boteco. E volta para casa equilibrando no par de sapatos, só para ter mais uma noite sem sono. E levanta da cama com cara de ontem.
Ainda não descobriram uma cura para isso. Talvez por que as pessoas relutam em admitir que sofrem de amor. É fato que todo mundo pega em uma época da vida. Ou duas. Ou três. Ou mil. Não tem como fugir. Mas cada surto de amor é diferente do outro. Você se sente mais forte quando passa.
E cada um se vira da maneira que acha mais fácil. Uns compensam a falta de sono na balada com os amigos. Outros contratam um pacote de Yoga do spa. Alguns compram uma porção de livros, ou se empanturram com chocolates. E tem os que se acostumam com a vida de ser carregado para fora dos botecos.
Um dia, porém, você estará imune a todos os tipos de amor. E encontrará alguém compatível. E juntos vão dar risadas das noites sem sono de tempos atrás. E questionarão o motivo de não terem se conhecido antes. Como se a cura para um fosse o outro. Acreditarão nisso. E seus filhos vão pensar que também estarão livres de pegar amor. Que ingênuos. Faz parte da vida. Sofrer de amor é um rito de passagem. Não tem como fugir.