BOLSAS SOCIAIS - DEGRADAÇÃO SOCIAL
Sou professora. Tenho 21 anos. Gosto do que faço e odeio quando me dizem que escolhi a profissão errada.
Constantemente quando converso com velhos amigos ou conhecidos na rua e me questionam sobre minha profissão, respondo - “Sou professora” – e logo vejo aquele riso desajeitado com cara de – “Sério que você é isso” – que legal, mas ‘coitada’ ou ainda ‘que coragem’. Aí eu digo que gosto, mais ainda, que adoro e que me identifiquei com a profissão. O riso continua, eu retorno a pergunta e assim encerramos o breve encontro prometendo marcar alguma coisa para relembrar os bons tempos.
Depois fico me perguntando quando que isso aconteceu, quando que os professores mudaram de categoria, que eu não vi. Quando que foi que os professores deixaram de ser responsáveis pelo ensino para deverem favores a sociedade? Educar suas crianças? Considerados e responsáveis únicos pela evasão escolar? Eu não sei quando as coisas mudaram, mas acho que não é assim.
Quero acreditar na educação como agente modificador de cidadãos, mas ela não pode exclusivamente depender de alguns, tem que ser proposta de todos, dos educadores, das escolas, das autoridades políticas e sobre tudo deve começar em casa, pela família. Como levar a sério gente que coloca filho no mundo e acha que é obrigação do governo e da escola dar assistência e educar?
Poderia passar dias discutindo tudo que vejo cotidianamente e não só em minha profissão, mas inúmeras outras. Poderia falar da injustiça salarial de forma geral, poderia falar das vezes que necessitei de atendimento médico e tive que procurar planos particulares porque os impostos que eu pago não me dão o direito de usufruir o atendimento público, dessas bolsas sociais que estão virando moda, como Auxílio reclusão, Bolsa Crack e vale “tudo” entre tantas outras, que não são destinadas a trabalhadores.
Francamente, essas leis também não ajudam muito, o incentivo ao comodismo é maior do que aos que lutam diariamente para se sustentar.
Mas sou professora. Serei por um bom tempo professora, mas sinceramente não sei até quando vou tolerar ser e ver colegas meus sendo responsáveis por uma educação que não lhes cabe e mais ainda, sofrendo as consequências dia a dia em sala de aula com jovens que podem fazer de tudo, menos trabalhar e serem responsáveis por seus atos.
Tudo que quero fazer é continuar meu trabalho, escolhi sim minha profissão por amor, mas como todo mundo eu não vivo só de amor.