EU E O COMPUTADOR

Às vezes fico pensando: o que seria de mim se não fosse o computador? Eu me atrevi a comprar um, mesmo na dúvida se aprenderia a usá-lo, considerando que alguns amigos meus, com alto nível intelectual, colegas do Banco do Brasil, inteligentes e de elevado grau de preparo, incluindo até alguns amigos engenheiros civis, todos mais ou menos da minha idade, não conseguiram desvendar os seus “segredos”. Alguns até chegaram a adquirir um e contratar técnico para ensinar-lhes, porém inutilmente. Três deles, pelo que me disseram, preferiram continuar escrevendo na velha máquina de escrever.

Meus professores foram os meus filhos: Giovanni, Soraya, Wilson e principalmente Simone, que, pacientemente, me deram as primeiras lições e, a cada dia, acrescentavam um detalhe. Primeiro, me ensinaram a usar o Word, redigindo os primeiros textos. Havia muitos pormenores a aprender para fazer com que o texto saísse em condições de ser impresso. Para tanto comprei também uma impressora. Após as primeiras lições, redigi algumas cartas a amigos residentes em outras cidades, causando-lhes admiração e, talvez, até, inveja. Não vou citar seus nomes porque acho que seria uma indelicadeza.

Como ia dizendo no segundo tópico, apesar de ter dificuldade em entender, assimilar e memorizar todos os seus recursos, fui absorvendo-os aos poucos. Depois de aprender a escrever, fui dando feição aos textos: as maiúsculas, os tipos maiores ou menores, negritos, itálicos, cores, espaçamentos, etc. Aí passei a ensaiar os primeiros passos na internet. A etapa seguinte foi criar um e-mail com a respectiva senha. Aprendi como mandar, abrir, ler, armazenar, retransmitir ou excluir os e-mails dos primeiros internautas que foram aparecendo, até que consegui estabelecer uma rede de contatos e como acessá-los.

Mas, antes de prosseguir descrevendo minha lenta evolução na aprendizagem, quero dizer que, se não fora o computador, não teria escrito os sete livros publicados e as dezenas de crônicas e contos, quase todos encaminhados ao site www.recantodasletras.com.br., formando uma rede de amigos chamados virtuais, hoje quase três dezenas, os quais, com suas mensagens amigas e carinhosas quebram a monotonia dos dias deste octogenário. Aliás, o encaminhamento ao referido site ainda nem é feito por mim: escrevo os textos e os mando para Simone, que os envia para o Recanto. Mas espero aprender a fazer isso dentro de mais algum tempo.

Certo dia, supondo que já aprendera o suficiente, pedi a um filho que fosse comigo comprar um notebook. Foi um fracasso; não me adaptei e tive que dá-lo a uma neta.

Tenho um antigo amigo, colega do Banco, que trabalhou vários anos na Direção Geral, no gabinete de uma Diretoria, o qual era incumbido de redigir a correspondência às agências sobre assuntos pertinentes ao setor. Para tanto, teve, naquele tempo, que fazer cursos com os melhores linguistas do Rio de Janeiro e treinar exaustivamente em máquina de datilografia, pois as cartas emanadas da DG teriam que ser gramaticalmente de absoluta correção e perfeitas na forma. Mesmo assim, depois de aposentado, não se adaptou ao computador. Tem três livros escritos: “Um Anão na Montanha”, “Os Fernandes de Souza” (genealogia) e “O Cálice Partido” (crônicas), o original deste último distribuído aos amigos totalmente datilografado, as folhas presas naquelas espirais de aço. Outro colega residente no Rio, infelizmente já falecido, só me escrevia à máquina. Uma amiga, residente no Estado do Rio, que também manteve comigo, por vários anos, intensa correspondência, me mandava suas cartas todas manuscritas.

O gênio mossoroense – agrônomo, antropólogo, paleontólogo, geólogo, sociólogo, um pesquisador incansável, que foi um dos fundadores, diretor e professor da Escola de Agronomia de Mossoró (hoje Universidade Federal do Semiárido); criador da Fundação Cultural Vingt-un Rosado: falo do Dr. Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, de quem tive a honra de ser amigo e que me deu provas do seu apreço, sem cujo estímulo não teria escrito nenhum dos meus sete livros; pois bem, o Dr. Vingt-un, segundo me disse seu filho, o médico Jerônimo Dix-sept Rosado Maia Sobrinho, era um péssimo datilógrafo e as centenas de livros que escreveu os fez à mão e um secretário os passava para o computador e deste para o prelo.

Desde alguns anos, a maior parte do meu tempo passo em frente ao computador, dando tratos à imaginação, à procura de algum tema para escrever uma crônica, um conto ou alguns artigos, buscando na memória remota algo que contribua para a história de Mossoró, onde nasci e morei praticamente 50 anos. Já escrevi alguns livros e tenho matéria para publicar mais um; o problema é que, quando me ocorre alguma dúvida sobre determinado acontecimento ou personagem, não tenho mais um contemporâneo a quem possa consultar.

Não sei dizer quem foi o inventor do primeiro computador; sei que, a cada ano foi sendo aperfeiçoado até se tornar a fabulosa e utilíssima máquina que é hoje e que vem sendo aperfeiçoada constantemente e seu uso e o dos seus derivados, por assim dizer, estão cada vez mais generalizados. Hoje, para todas as empresas, grandes e pequenas, se tornou um instrumento indispensável. Quando me lembro do tempo em que trabalhava no Banco do Brasil, levavam-se vários dias e noites para fechar um balanço semestral, mesmo já se dispondo de vários tipos de máquinas ditas modernas. Eu era subgerente da agência de Mossoró quando fui convocado, em 1965, para passar um mês no Rio de Janeiro fazendo um curso para a mecanização dos serviços com modernas máquinas importadas que, em pouco tempo, se tornaram absolutamente obsoletas. Hoje, todos os serviços são informatizados.

Atualmente, tenho amigos com os quais me comunico a qualquer hora. Tenho uma filha e um genro (Soraya e Eduardo) morando em Nova York, com os quais ou falo instantaneamente pelo telefone ou converso pelo “Skype”, com a sua e a minha imagens nas telas dos respectivos computadores. Meu filho Francisco Wilson dialoga, a qualquer hora, utilizando um moderno I-phone, som e imagem perfeitos, com seu filho Flavio em uma cidade da Sibéria (Rússia) ou com sua filha Ana Paula, em Massachusetts (USA). A tecnologia avança quase a cada dia. Hoje já existem os blue-ray, os I-pod, I-phone e outros sofisticados aparelhos que, dentro de mais algum tempo possivelmente estarão certamente superados.

Por isso é que costumo dizer e agora repito: Deus tem sido sempre generoso comigo. Havendo me concedido a possibilidade de aprender a usar, mesmo que rudimentarmente, o computador, o que me deu condições de suprir a monotonia das horas, de ganhar um bom círculo de amigos das mais distantes cidades, aos quais até prestei, em crônica recente, a homenagem da minha gratidão pela amizade com que cada um me distingue. Eles preenchem, com suas carinhosas mensagens, os dias de solidão deste octogenário.

Não fora o computador, minha vida, de alguns anos para cá, devido a vários fatores, seria bem mais vazia. Mesmo assim, agora ouso indagar, sem obediência à ordem cronológica de tantas invenções e descobertas: depois do computador; depois da ida do homem à Lua; depois da bomba-atômica; depois das naves espaciais; depois da descoberta da penicilina; depois do primeiro transplante cardíaco; depois dos aviões supersônicos; diante de maravilhas como as TVs e cinemas em 3-D, dos trens-bala, dos automóveis que só faltam falar, ouso indagar, repito: será que melhorou a vida do homem diante de tanto terrorismo, das constantes ameaças de guerra nuclear, da dissolução dos costumes com situações consideradas naturais e até sacramentadas pela Justiça; do avanço pernicioso e avassalador das drogas destruindo lares e o futuro de milhares de jovens e, finalmente, a corrupção generalizada e a ganância dos detentores do poder?

Considerando tudo isso, não será o caso de perguntar: meu Deus, que futuro será o dos meus (nossos) filhos, netos e bisnetos?

Natal, 13.5.2013

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 14/05/2013
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