O PASSEIO.
Quando moleque sempre gostava de acompanhar a minha avó Sara ao mercado do Ver-O-Peso, em Belém do Pará. A velhinha ainda era esperta e muito serelepe, conhecia cada cantinho das pequenas vielas por onde se esparramavam um infinito numero de barracas, que vendia da comida, até as ervas medicinais que pessoas do Brasil e do mundo vinham atrás.
Eu, por minha vez deveria ter por volta de uns seis para sete anos, medroso, assustado com o tamanho daquilo tudo, no entanto ficava maravilhado e curioso. Minha avó, conhecia vários vendedores e eles a atendiam com a maior presteza possível, ela me apresentava a eles, que passavam a mão por minha cabeça e ofereciam bombons que eu é claro, aceitava prontamente. Íamos desbravando cada pedacinho do grande mercado, sempre grudadinho nas mãos da velha senhora, que vez por outra perguntava se eu estava muito cansado e me dizia: - Depois nós vamos tomar um suco! Mas o que eu queria mesmo, era tomar uma abacatada (vitamina de abacate ai no sul e sudeste), bem geladinha, o vendedor colocava gelo picado, bastante leite e um belo pedaço de abacate, aquilo para mim era um manjar dos deuses, aquela bebida geladinha, para amenizar o calor que se fazia por entre as barracas.
Assim, seguíamos nosso caminho e a sacola da velha Sara, ia enchendo com suas variadas compras, suas ervas para suas garrafadas e seus banhos, o peixe fresquinho, as frutas, era tudo muito mágico, muito bom. Hoje, sempre conto essa historia para meus filhos e para minha esposa, é algo que ficou tão forte em minha mente, tão marcado em meu coração, que sinto tudo outra vez, o cansaço pelas longas caminhadas, o cheiro das frutas e do peixe fresco, o gelado da abacatada descendo por minha garganta, o subir no ônibus para voltar para casa e o toque suave e macio das mãos de minha velhinha, segurando em minhas pequenas mãos de criança assustada, e maravilhada com a grandiosidade de tudo que se passava.
Adoro ter essas recordações, penso que elas fazem bem ao coração e nos fazem sentir tudo outra vez, assim eu sigo, conjugando o ontem e o agora e fazendo dos meus dias, dias de paz.