EMPREGADA DOMÉSTICA II
A fronteira, imposta por mim, para limitar o tamanho dos meus textos, foi fruto da observação diária do que fazem os profissionais.
Há os que escrevem diariamente e os que o fazem semanalmente. Naqueles, os textos são curtos e incisivos; nos outros, são longos e, quase sempre, acabavam me entediando; a pressa moderna, por vezes, vem prejudicar a essência da coisa – mas nós somos modernos!
Ao final da crônica "Empregada doméstica I" disse que o menino que, felizmente, ainda mora em mim, teria sussurrado aos meus ouvidos que seria prudente amenizar o clima com um fresco sopro de humor.
Prometi ... e promessa é dívida!
Quem leu a minha crônica "Só pra conferir" (6 leitores), vai lembrar da Edileuza, empregada de D.Lili, da mesma forma que os 8 leitores da "Habemus papam" conheceram a gloriosa figura do Altamiro, odioso personagem, portador do virus "polemicus vulgaris", que, afinal, por ironia do destino, largou a família, o colete e as polainas e juntou-se à citada Edileuza, depois que esta cansou do papo-furado do melífluo Arlindo; quer dizer – a coitada pulou da frigideira para o fogo!
Vai daí o que segue!
Na cozinha da casa de D.Lili, defrontam-se a dita cuja e a famosa Edileuza.
- E aí, Edi, tá rindo à toa com a nova lei, não é?
- D.Lili, a gente tomem é filho de Deus...
- Também, Edi. Mas do jeito que a coisa está, acho até que Ele me deserdou!
- Deixe disso D.Lili, pra sinhora é apenas um pingo d´água...
- Tem razão, Edi, é a gota que vai fazer o cálice transbordar.
- D.Lili, o meu atual, o Altamiro, que entende de coisa que eu nem disconfio, disse que a divisão das renda vai acontecer mermo, queiram ou não os imperialista. Num intendi nadinha disso, mas ele falou que o resultado vai ser mais grana nos nosso bolso. E disse mais; se eu ainda estivesse vivendo com aquele pulha do Arlindo, aí mermo é que o bandido ia deitá e rolá .
- Faz sentido, Edi, mas, se não me falha a memória, você disse que aquela fungadinha no cangote....
- Pode pará, patroa, sinão o demo vai assoprar nos meus ouvido e aí...
- Edi, falando sinceramente, acho que com toda essa confusão, não vou poder arcar com esses ônus todos e vamos ter que conversar seriamente sobre o assunto.
- Mermo sem saber o que é "arcar" e "ônus", acho que vai sobrar pra mim a porta da rua, não é não, D.Lili ?
- Infelizmente, se as autoridades não agirem com a cabeça fria, não se aperceberem do abismo que estão criando, da grande ameaça de desemprego maciço, da necessidade de parar e pensar, então, minha amiga, por mais que eu a adore, o único caminho que me resta é esse.
A campainha toca, assustando ambas e a Edileuza se apressa a abrir a porta, sem, antes, justificar-se;
- É o Altamiro, D.Lili; ele vem me buscar para jantar num restaurante bacana, desses das elite, coisa fina, por conta do novo salário. Ele sabe viver, patroa!
- Realmente, ele tem bom gosto, Edi, mas se ele está contando com a minha cooperação, pode dizer pra ele tirar o cavalinho da chuva.
- Num fala assim, patroa, que ele é muito sensivo...
- Sensível, Edi.
Abre-se a porta e entra o Altamiro. Toma senso do que estava sendo discutido e, com a convicção e profundidade de um pensamento de Buda, sentencia:
- Há controvérsias, mas na minha modesta opinião...
(não deixe de ler o colega Afonso Martini)