BANCO

É chato saber que se tem um documento que só se pode pagar em um banco. Mas na hora do almoço, ninguém vai para a fila. Pensei: “vai ser rápido”. São 12:30h. Engoli um salgadinho no barzinho ao lado do banco, prá tapear o estômago até no máximo 13:00h, hora do meu almoço.

Que ótimo! Só cinco pessoas na minha frente. Fila pequena – 12:35h. São três caixas atendendo, vai ser mais rápido do que imaginei. Não, espera aí. São só dois. O do meio parece que foi almoçar.

12:45H – A fila não andou um centímetro Chegaram 3 velhinhos e têm preferência de atendimento sem entrar na fila, é claro.

13:00h – Chegaram : uma grávida e uma madame com uma criança no colo. Passaram na frente. O cartaz fixado no vidro do caixa diz: “PREFERÊNCIA PARA IDOSOS, MULHERES GRÁVIDA E COM CRIANÇAS DE COLO.”

“- Êpa! Essa aí não é criança de colo! – gritou em alto e bom som uma jovem que estava à minha frente – Esse menino deve Ter uns 5 anos. Ele estava pulando agora mesmo ali atrás! Olha o cartaz: “CRIANÇA DE COLO! E NÃO CRIANÇA NO COLO!” – E ainda mais alto – “ Se é assim, vou ali fora e pegar qualquer menino de rua no colo só para passar na frente!

Pensei: O barraco está armado. Mas a madame, só na dela, sem descer do salto, com a maior cara de pau, continuou firme na frente de todos e ignorou a dita cuja.

- Ô seu caixa! Não acredito que vai atender a madame aí, depois da grávida! – Gritava a mocinha agora desesperada, agitando alguns papéis que pareciam ser notas a serem pagas e ainda virou-se para trás, quase cuspindo em mim e fez um discurso para o restante da fila que já se alongava .

“- Estou aqui há 40 minutos, sem almoçar e o aviso diz: “ATENDIMENTO A PESSOAS COM CRIANÇAS DE COLO!” E balançava as mãos como se embalasse um bebê – “Criança de colo! De colo!

Aí foi um rebu. A galera sem almoço agitou.

- “É isso mesmo!”

- “Fura fila!”

- “Cara de pau!”

- “Que é isso chefe! Tenho mais dois bancos prá enfrentar fila!”

Cochichos, resmungos, e a madame nem virava prá trás para gente ver se a cara dela era de pau mesmo.

13:30h – A fila mexeu. Mais um foi chamado no caixa ao lado da madame que fez sinal de que mudaria de lado. A criança em seu colo, já esperneava prá descer do colo e sair piruetando e a mãe madame, já não agüentando mais segurar a ferinha, exige seus direitos de ser atendida primeiro.

O caixa até pensou em atendê-la, mais foi intimidado pela fila que agora já dava três voltas dentro do banco.

- “E aí seu caixa, se atender a madame, vou reclamar com o gerente!’

E um coral que até parecia ensaiado, gritou: “Eu também!”

Não pude ouvir o que o caixa dizia à madame pois o menino já estava berrando na mais clássica pirraça, mas a dama colocou o pirralho no chão e saiu pisando duro, chocada com os aplausos da fila que mais parecia uma serpente.

Problema da madame resolvido, a fila toda comentando o fato, pensei: AGORA A FILA ANDA!

Que nada. Mais um caixa saiu para almoçar. Menos eu, que por alguns instantes pensei em abandonar a fila, agora achava que era questão de honra chegar até o fim.

Uma velhinha, mais firme do que eu depois de 1 hora de pé e sem almoço, entrou na frente, tirou um pacotão de dinheiro miúdo e outro pacotão de notas a pagar, de conta de luz, de água, de telefone e sei lá mais o que.

Pensei que ia pirar. Teve gente que sentou no chão, o calor parecia aumentar, outros saíram resmungando do banco e desistiram, teve gente que xingou o banco, o patrão, pensou em pedir demissão, tentou subornar o primeiro da fila prá ficar com seu lugar e por fim teve até um minuto de silêncio, com todo mundo exausto. Mas a chata da mocinha que estava à minha frente, continuava a contar a história da madame que tinha uma criança no colo e não “de colo” ( e balançava os braços embalando ainda uma criança invisível), para cada um da fila. E ainda me cutucava para que eu confirmasse a história. Ai, todo mundo começou a contar um caso de fura fila de banco, de como reagiu, de como já foi confundido com fura-fila e a velhinha lá, olhando para trás e rindo como se tivesse tirando a maior onda da cara de todos.

14:00h – 4 pessoas à minha frente, 20 atrás. A velhinha saiu e meu desespero aumentava. O segundo da fila ameaçava se vingar do caixa, ficando lá pelo menos 1 hora, uma vez que já estava com o serviço de pelo menos mais três boys que agora deveriam estar em outros bancos fazendo o serviço dele.

A fila andou mais um pouco. Nenhum caixa chegava do almoço.

Ai que raiva do cara que estava atrás de mim. Ninguém merece um caboclo desses grudado nas minhas costas como se procurasse um encosto, bufando no meu cangote com um hálito de quem nunca ouviu falar da dupla escova/fio dental. E ainda falava no meu ouvido: _ “Um passinho à frente aí! “e eu dava o passinho para o lado, entortando a fila toda, só para fugir do bafo do caboclo. E ele se aproximava mais, me espremia em direção à mocinha da frente e pedia:

-“Mais um passinho aí minha senhora.” Como se isso o fizesse chegar mais rápido ao caixa.

E a mocinha, me mostrava as notas que tinha que pagar e falava novamente na madame da criança no colo e não de colo. A essa altura eu só conseguia ouvir a palavra colo, colo, colo.

Resolvi me distrair observando como o caixa contava as notas. Que desespero! O cara contava bem devagarinho... Passava nota por nota, elevava as de 50 em direção à luz e... contava tudo de novo.

14:20h – Já tinha lido todas as propagandas do banco, os avisos, todas as informações do formulário da minha conta. Já havia xingado o caixa pela sua proposital moleza,( só em pensamento, pois eu odeio barraco) a burocracia desse país, a louca à minha frente que agora ria histéricamente e ameaçava ir à rua pegar uma criança no colo prá ser atendida primeiro, o bafo de onça do sujeito atrás de mim, que ainda insistia em respirar no meu pescoço. Dei um olhar daqueles fulminantes, para o sujeitinho com cara de inocente útil que estava em último lugar na fila e que de repente deu 5 “paus” para o segundo da fila para que ele pagasse a “ruma”de papéis que ele tinha em uma pastinha sem zíper.

A porta giratória que sempre me distrai com pessoas que ficam rodando entrando e saindo do banco, sem conseguir passar por ela, já havia perdido a graça. Eu queria mesmo era sair dali, mas se saísse teria perdido 2:30h do meu dia e não teria conseguido pagar a tal conta, que só poderia ser paga naquele banco e naquele último dia.

14:40h – Chegou mais uma grávida e passou na frente de todos. Logo agora que só faltavam dois para que eu fosse atendida. Só consegui dizer: _ Chega! Basta! Vou embora, pago 22% de multa por atrasar somente um dia ou então coloco dinamite para explodir esse banco que até o gerente deve reclamar do atendimento e da falta de funcionários.

Nunca vi tanto velhinho office-boy, aliás, office-old; nunca vi tanta grávida sem barriga, tanto chato na fila, tanta incompetência atrás de um caixa, tanto caixa rápido lento.

Quando já estava por decidir pela segunda alternativa das que me propus acima vi uma luz no fim do túnel, aliás, no fim da fila: - Chegou mais um caixa. A fila andou.

Meia hora depois, desconfiada de que já não tinha mais pernas, pois não as sentia, suada, com os dentes trincados de tensão, consigo chegar ao caixa. Merecia uma medalha, uma coroa de louros, um pódio. O funcionário do banco pegou meu documento, olhou para mim, olhou meu papel, olhou de novo para mim, deu um sorriso meio amarelado e disse:

- Você está no banco errado. Se correr o guarda do outro banco que fica pertinho daqui, só uns 5 minutinhos à pé, ainda te deixa entrar...

Bem, sabe o que aconteceu?

• OPÇÃO 1 = Sai correndo para o outro banco.

• OPÇÃO 2 = Tive um colapso fatal e este é um texto psicografado por Mãe Didi, uma médium porreta.

• OPÇÃO 3 = Dei um gritão no meio do banco, um murro no cara que respirava no cangote de quem ele nem conhece e nem tem intimidade; me joguei no colo da chata que estava á minha frente e não a deixei sair do banco, falando o tempo todo: - Sou sua criança no colo, e não de colo! No colo! No colo!

• OPÇÃO 4 = Explodi o banco no dia seguinte e fugi para a Bolívia para trabalhar para a guerrilha.

• OPÇÃO 5 = Fiz uma consulta ao oftalmologista, para enxergar melhor as placas de bancos.

• OPÇÃO 6 = Matei você de raiva, por chegar a ler até aqui, sem Ter encontrado um fim que lhe fosse satisfatório!

Azar seu, e não meu!

Angela Imaculada

Imaculada
Enviado por Imaculada em 27/04/2013
Código do texto: T4261975
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