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Jocastro estava apreensivo demais.
Disse à mãe que “trabalharia” bem cedo no dia seguinte.
Dona Ana reclamou:
_ Filho, você é muito explorado por essa empresa. Eles todas as vezes modificam o horário das entregas.
O filho falava qualquer coisa disfarçando a verdade.
De repente o celular tocou, Jocastro saiu da sala e começou a conversar.
_ Carlito, o carro está pronto?
_ Tudo em cima, Jocastro! Amanhã sete horas buzino aí.
_ O material de apoio está em ordem?
_ Sim! Os revólveres, a metralhadora, a munição reforçada, os explosivos, verifiquei tudo há quarenta minutos e amanhã de manhã volto a conferir.
_ Quantas pessoas podem complicar?
_ Tem dois vigias no local. Fora isso apenas algum andarilho ou intrometido que apareça. A área é muito afastada do centro, eu calculo que, se a gente agir rápido, escapa fácil dificultando a tentativa de captura policial.
_ Tomara! Nossa prioridade é não machucar ninguém, certo?
_ Combinado, mano!
Após concluir a conversa, Jocastro se despediu da mãe dizendo que estava com sono e foi para o quarto.
 
Paulo estava apreensivo demais.
A idéia de efetuar mais uma cirurgia suscitava preocupação, porém o agravamento da enfermidade do estimado paciente não permitia outra decisão.
Sua esposa atenciosa indagou:
_ Há possibilidade de êxito nessa cirurgia, querido?
_ A expectativa de sucesso é reduzida, no entanto eu preciso confiar nesse último e delicado recurso. Estou supertenso, pois o paciente virou, nesses dois anos de tratamento, um grande amigo. Será muito triste caso ele não resista!
_ Além disso, os pensamentos supersticiosos visitam a minha mente quando eu constato que vou realizar minha primeira cirurgia matutina num contexto emergencial.
_ Bobagem, querido! Não dê força a idéias pessimistas!
_ Concordo, porém a realidade é bem grave e desperta uma apreensão natural. Eu vou tentar uma espécie de milagre.
_ Pediremos a Deus que execute o milagre no seu lugar.
_ Sim, pediremos.
Os dois oraram solicitando proteção e inspiração.
_ Que hora ocorrerá a cirurgia?
_ Iniciaremos a operação sete horas.
A esposa beijou a testa de Paulo, disse “Boa Noite!” e desligou a luz do quarto para que os dois conseguissem descansar.
 
André estava apreensivo demais.
Na varanda imaginava a conversa que teria na manhã seguinte com a noiva.
Ritinha sofreria, ele adiou bastante o urgente diálogo.
Pensou que o envolvimento com Rebeca seria uma aventura passageira, mas admitia agora alimentar uma intensa paixão pela deslumbrante colega de trabalho.
A decisão de encerrar o noivado, que completou três anos, não era nada fácil, contudo precisava acontecer.
Combinou que passaria na casa da futura ex-noiva sete horas.
Provavelmente desfrutaria uma noite de insônia já que nutria um carinho enorme por Ritinha, uma adorável conhecida desde o período infantil.
Cresceram no movimentado bairro, estudaram juntos e nunca se distanciaram.
Talvez a formosa noiva sempre tenha despertado somente um precioso amor fraternal.
Ouvindo o incentivo dos amigos e cedendo ao sentimento de Ritinha, aceitou investir no relacionamento.
Depois de conhecer Rebeca, entretanto, concluía que errou.
Agora era inevitável encarar a chuva pesada que o horizonte nublado anunciava.
 
Jocastro entrou no carro que buzinou pontualmente sete horas.
No veículo, além de Jocastro e Carlito, o homem da ligação na noite passada, havia dois comparsas no banco traseiro.
A mãe acenou abençoando o trabalho inesperado conforme o filho informou.
O motorista sorriu e saiu disparado, permitindo assim que os pneus cantassem alto.
Jocastro não conseguia disfarçar o grande temor. Ele corria o risco de perder a vida durante a execução do assalto.
 
Sete horas o jovem doutor Paulo iniciou a cirurgia, pedindo que sua fiel equipe demonstrasse um esforço superior ao habitual, doando o máximo nesse instante tão sério.
Dialogando com outros médicos no dia anterior, todos eles desaconselharam um novo procedimentro, porém Paulo queria acreditar.
Achava sensato tentar.
O temor era evidente, porém ele precisava crer no milagre.
“Por que não pedir ao Autor da vida o prolongamento da vida do amigo?”
 
Ritinha, sete horas, abriu a porta para o noivo adentrar a casa.
O sorriso tão meigo de Rita deixou André constrangido, quase o rapaz bolou uma desculpa objetivando evitar o papo.
_ Parece que você tinha formiga na cama, Andrezinho?
_ Há conversas que não podem esperar, Rita!
_ Assim eu fico preocupada. Diga logo o que é. A aproximação do casamento está te angustiando, querido?
_ Por acaso teme largar a saia da minha adorável sogrinha?
Como falar sobre Rebeca?
Como encerrar o noivado citando uma mulher que Ritinha nem sequer sabia existir?
Angustiado, André desenvolvia várias indagações mentais.
Ele não considerava caridoso destruir a contagiante felicidade da inocente moça.
O rapaz não queria jamais vê-la lastimar a vida.
 
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Meus estimados leitores e minhas queridas recantistas, eis três situações que começam a ganhar definição no mesmo horário, sete horas.
 
O médico Paulo necessita do milagre, porque ele percebe não ter condições de fazer mais nada.
A última atitude, a arriscada e ousada cirurgia, Paulo sabe que será ineficaz se Deus não agir, ou seja, a vitória depende da Vontade Maior garantindo a inestimável vida.
 
O noivo André precisa de coragem, pois desmoronar todo o “castelo de areia” edificado por Ritinha é um ato desumano.
Não terminar os falsos projetos e os sonhos ilusórios da noiva também significa uma opção cruel, portanto ele não poderia mais adiar a revelação.
Após o terrível desencanto, Rita enfrentará o desafio de voltar a acreditar no amor e recuperar o entusiasmo pela vida.

 
O assaltante Jocastro precisa escutar a voz da consciência e experimentar a trilha do bem na qual a mãe dele imagina que ele segue.
Uma ação discreta e satisfatória, sem violência, não diminuirá o excessivo prejuízo moral já desenvolvido nem eliminará a profunda vergonha de saber que, até o momento, ele ainda não fez valer a pena a vida.
 
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O mesmo horário.
Escolhas diferentes.
Apreensões fortes.
A vida mostrando alternativas e veredas.
A vida que pode finalizar uma jornada estúpida numa atitude repleta de irracionalidade, a vida podendo perder o esplendor depois da severa confissão de um rapaz que brincou com o coração da melhor amiga e a vida a qual pode continuar após o profissional dedicado, reconhecendo sua limitação, instigar a intervenção determinante Daquele que é ilimitado.
 
Saudamos a literatura possibilitando esse "passeio" que faz a gente refletir sobre as telas pintadas com as cores exatas das tintas utilizadas por cada indivíduo.
Saudamos também a vida a qual podemos merecer, cantar, estimular ou desperdiçar, no entanto que jamais deixará de ser maravilhosa, especial e única.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 20/04/2013
Reeditado em 20/04/2013
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