OUTONO, MORTE E VIDA
 
Hoje caminhando em Copacabana pela manhã, neste bairro de beleza sem igual, segui pela avenida N. S. de Copacabana, entrei na rua Constante Ramos, para logo a seguir, dobrar a esquerda e entrar na rua Leopoldo Miguez, em direção a paróquia de São Paulo Apostolo, que fica na rua Barão de Ipanema.

A rua Leopoldo Miguez é muito arborizada, há arvores de um lado e do outro da rua, seus galhos no topo juntam-se formando um arco verde, muito bonito. Gostoso de se ver. O chão encontrava-se coberto de folhas verdes e amareladas, caídas das pontas dos galhos, a feitura parecia um tapete multicolorido e esplendoroso aos olhos de quem se deixa embevecer pelas coisas da natureza.

Enquanto caminhava e curtia aquela beleza, pensava comigo mesmo: tal qual a vida das arvores é a vida dos homens. As árvores mudam a cada ano nesse período, suas folhas caem, novas folhas nascem e no próximo ano morrerão e outras brotarão no decorrer da vida, até que o ciclo se complete e elas cheguem ao final, donde folhas e caules, ao pó da terra voltarão. Quando muito podemos transformá-las em móveis, ou simplesmente um cepo, no qual alguém possa sentar-se em uma bela ou monótona tarde de outono.

Ao homem também cabe este ciclo. Todo ano, acrescentamos um espaço ao demarcado caminho da vida. Mudamos. Não me arrisco a  afirmar que mudamos para melhor, mas é certo que modificamos as atitudes outrora impensadas, o nosso pensar vai tornando-se cada vez mais apurado. A cada ano que se vai, uma folhinha da nossa outonal vitalidade esparrama-se sobre o chão, mais uma, mais outra e mais outras... O que fazer? Nada. Aprimorar-nos espiritualmente a cada dia e aguardar a vez de nos tornarmos lembrança.

O que é muito bom. Imaginem quantos já concluíram o seu ciclo e, desses ninguém mais se lembra. Quem fora aquele ou aquela, que caminhou em dada estrada, por certo tempo na vida, nesta terra de ninguém?

Cheguei à igreja, sentei-me em um banco, lá pela meação da nave e fiquei atento às leituras do dia. No evangelho de hoje, escrito por S. João, pude destacar uma frase que veio de encontro ao que acabo de narrar no inicio deste texto. Diz Jesus: “Em verdade; em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mão e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir”.

Assim será quando atingirmos o fim da trajetória. Rogo a Deus que me conceda até o último dia da minha vida, a dádiva de poder eu mesmo cingir-me.


Que no ultimo outono possa eu delinear as possíveis belezas existentes, muito além do horizonte da vida terrena.

               Rio, 14/04/2013
             Feitosa dos Santos