VÍTIMAS DO CONSUMISMO
A corrida para aquisição de produtos, aparelhos e objetos das mais variadas ordens e utilidades tem sido, nos últimos tempos, a vocação de milhões de brasileiros. Na imensa vitrini dos mercados nacionais ou internacionais, adquirir algo que deseja tornou-se uma questão de corresponder a um instinto moderno, e equiparar-se às normas e padrões exigidos para o bem-estar. O resultado dessa submissão, no entanto, é a estagnação das condições financeiras dos consumidores.
A falsa estabilidade financeira que se instalou no Brasil nos últimos anos, explora a crença de que milhões de pessoas conseguiram desatolar da linha de pobreza, e que estão tendo maior participação na vida social. Isso tem influenciado de forma significativa no comportamento dos brasileiros, que acabam gastando precipitadamente o que ganham e o que não ganham.
O desequilíbrio entre o que se gasta e o que se pode gastar tem deixado muitas famílias endividadas. Compromissos com cheques pré-datados, prestação de carro, empréstimo pessoal, carnês de lojas e cheque especial tornam-se problemas difíceis de resolver. Uma pesquisa realizada pelo CNC (Confederação Nacional de Comércio) mostrou que, em 2011, 61,2% das famílias ouvidas declararam possuir dívidas com esse perfil.
Consumir algo que deseja ativa o sistema de recompensa do nosso cérebro, que é um mecanismo ligado ao prazer. Para o neurocientista Jorge Moll, do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, do Rio de Janeiro, essa é a parte biológica que incita o consumismo. Atrelado a isso estão as estratégias do mercado, que está sempre renovando seu arsenal de produtos, para oferecer nossas ilusões materializadas nas prateleiras, nos outdoors ou num anúncio qualquer.
Possuir conta no banco, carro, celular de última geração e um guarda-roupa empanturrado podem não ser sinal de progresso financeiro. O gasto excessivo com coisas efêmeras e sem préstimo pode indicar que estamos ficando mais pobres, endividados, rodeados de coisas que nos tornam medíocres e servidores de um sistema que de fato não nos beneficia. Precisamos aprender a lidar com as armadilhas dos audaciosos, nos livrar da ideia de possuir o extraordinário e empregar nosso pequeno tesouro em coisas que de fato serão úteis em nossas vidas, ou continuaremos pobres: de bens e de espírito.
Prof. Daniel Reis 03/04/2013