A beleza do arco-íris.
O céu está ameaçador por uma razão natural que conhecemos bem; a iminência da chuva. Trata-se de um dia nublado, onde as nuvens parecem andar aceleradas uma ao lado da outra, desenhando várias formas de expressão, sendo que algumas delas (um pouco separadas) dão ensejo à entrada de luz solar, tornando-se brilhantes e mudando um pouco as cores do universo. Parecem luzes numa noite escura irradiando beleza.
Mas percebo que se trata de ensaio sazonal e passageiro, pois as nuvens estão dispostas a se tornarem as imperadoras dos céus, não deixando que outros fatores naturais intervenham em suas manobras para anunciarem a chuva. Sucede que elas mantêm um padrão constante de ameaças para quem passa embaixo e se arrisca a receber alguns pingos que, convenhamos, em certos momento são desagradáveis.
Logo vejo que não é um dia tão especial assim, porque algumas pessoas estão correndo e se arriscando por andarem mais rápido nas avenidas para poderem chegar aos seus abrigos antes das primeiras gotas de chuva. A maioria são motociclistas que correm risco dobrado, na tentativa de escaparem secos daquela ameaça iminente.
Talvez seja um horário impróprio para uma chuva. Bobagem, pois a chuva não escolhe hora e nem lugar. Ocorre que se trata de um horário de pico, quando as pessoas se dirigem para o trabalho. Não se sabe ao certo, mas fica a sensação que as nuvens se seguram lá em cima para poder derramar suas lágrimas algumas horas depois (num horário que não seja tão incômodo). Acho que é São Pedro que deseja evitar que a chuva molhe esses trabalhadores que circulam a pé, de bicicleta, de ônibus, pois sabe que para alguns (mais abastados) não haverá esse risco.
A chuva parece que transforma a gente. Muda o cenário verde. Ele se torna estonteante, brilhante, aconchegante. Fica radiante. As árvores balançam seus galhos, as folhas se agitam com o vento. A relva ainda latente pela ausência do sol, cobre a grama abundante com seu véu incolor impregnado de suas gotículas minúsculas. Esse lençol d’água reflete uma imagem inigualável que penetra no fundo da alma.
Nisso... suspiro fundo e compassadamente. Reencontro-me comigo mesmo. Não temo as possíveis perguntas que poderiam ser ocasionadas pela minha maneira pouco comum de expressar meu sentimento. Afinal, ver as coisas simples com a beleza de um olhar atento é algo grandioso para a alma de um homem.
Mas as coisas ficam feias do lado de fora. Da minha janela vejo aquelas gotículas enormes de água que descem abundante dos céus, como se quisesse expressar o intento de deixar os trabalhadores chegarem ao seu abrigo. Não poderia eu espantar-me tanto pelo imenso poderio pluviométrico. As chuvas são em alguns casos devastadoras. Levam montanhas. Levam vidas. Agora não, pois tudo é encanto.
As águas caem abundantes que encharcam a terra fértil dos jardins e da pequena mata preservada que é vista há alguns metros de minha janela. As árvores se abrem em um frenético vai e vem. É como se quisessem aproveitar ao máximo daquelas águas para banhar-se abundantemente. É ensejo para armazená-las em seu caule e nas suas raízes. Serão reservas que lhe darão suporte nos momentos de calor.
Os relâmpagos e os raios caem nas extremidades das alamedas que nesse instante estão inundadas pelas enxurradas. Essas águas revoltas marcham rumo ao seu destino final. Viajam pelas ruas e avenidas até encontrarem os riachos que dariam trânsito natural para seu encontro com os grandes rios.
Em certo momento cessa o furor. Tudo se envolve por uma calmaria serena e plena. Parece que as nuvens foram contidas e cederam para arrematar sobre a terra sua última cascata que remanesceu em um gotejar taciturno e bem calmo. As nuvens não... Elas continuam sisudas e ameaçadoras, como se quisessem dizer que não esperassem a contenção de sua fúria, porque continuariam alertas e vivas como sentinela da vontade do Criador.
Nesse instante um novo encanto se desenha no horizonte. São as pessoas que recomeçam a dinâmica da vida. Os pássaros se mexem nos galhos chacoalhando suas plumagens expulsando as gotículas que ainda insistiam em permanecer sobre seu corpo. Voam em direção ao chão em busca das traças ou insetos que, molhados, não tinham mais a destreza de antes para escapar dos predadores.
Nisso, as pessoas saem apressadas, olhando para o céu como se quisessem pedir mais um tempo para poder alcançar outro abrigo. O vento forte aproveitava o momento para remexer em tudo que fosse possível, levantando os galhos das árvores, mudando a trajetória dos voos dos passarinhos, arremessando os guarda-chuvas para o mesmo sentido de sua investida. E lá no fundo dos céus aparecia o majestoso arco-íris. Era o anúncio de que o mundo é colorido.