exposição de arte

Sob o peso de 10 mil pessoas

70 toneladas de gordura ossos sangue e fluidos diversos

o velho prédio balança

Nínguem repara no estilo vagabundo

imitação da belle époque dos velhos palácios erguidos na ex zona portuária

ex ex ex

tudo passou e tudo passa

Um vai e vem

a fila enorme não anda, corre

indianamente cumprimentamos até os postes

Obedecendo o comando dos seguranças

e dos monitores que se confundem

apesar do uniforme diverso

a multidão avança célere de um quadro ao outro

20 mil olhos passeiam pela exposição

a intensa concentração de pessoas

desconcentra a multidão

são bundas e paus e tetas disputando com os quadros

e há suores e outros humores fétidos a reclamar atenção

e há os guardas e as escadas de incêndio

fora dali os flanelinhas, o jogo de futebol ás 17

o sorvete a padaria o trânsito da volta

Em transe os olhares sem treino

fixam-se em poucos frames

tudo é mixórdia tudo é veneno

Os nomes impronunciáveis

dos artistas são copiados nos catálogos

que explicam o que é aquilo

Uma exposição de espelhos

veria a massa uniforme

de rostos inexpressivos

bocejantes

retendo uma única informação

para ser comunicada posteriormente:

- EU FUI Á UMA EXPOSIÇÃO DE ARTE