A QUARESMA E A PAIXÃO DE CRISTO

No meu tempo de criança a quaresma era um período de reflexão, ocasião em que o cristão dedicava o tempo para lavar alma rescindindo das práticas malignas que o perturbavam, preparando-se para reviver a parte mais dolorosa e chocante que era a paixão de cristo. Movido pela fé e por sua conduta social de religiosidade, ele aguardava com expectativa a vitoria Jesus no sublime domingo de ressurreição.

A tradição da quaresma exigia do cristão um profundo respeito. Muitas lendas povoavam o imaginário popular. Dizia-se que o demônio estava solto durante os quarenta dias. Era tempo de lobisomem e assombração. Não havia energia elétrica como atualmente e a escuridão no meio rural contribuía aumentado o medo que assombrava a população, qualquer luz que aparecia em alta noite causava espanto.

Na semana santa não podia cantar, não ouvia radio não pronunciava palavrões, caçar e pescar então, nem pensar, nenhum animal poderia ser abatido, aquele que provocasse qualquer tipo de sangramento, seria veementemente excomungado.

Em muitas casas o fogão a lenha permanecia apagado a partir do meio dia da quinta feira santa, e os trabalhos eram suspensos até ao meio dia da sexta feira, dia de jejum e de abster-se de carne. O silencio era profundo, não varriam a casa nem ao menos se penteavam os cabelos, era um respeito absoluto.

Aos poucos os homens foram desprezando o temor a Deus, e perdendo o medo que tiveram do diabo. Esta cultura foi mudando cedendo espaço ao consumismo desenfreado com promoções e mais promoções que dominam o poder de compra do consumidor. E a quaresma passou ser um motivo não de reflexão e respeito ao martírio de Jesus, mas de mercantilismo e comercialização de variados produtos que se dizem adequados a serem consumidos nesta época. Preparam-se para a páscoa da ressurreição com bebidas e churrascos.

Esquecerem-se da eucaristia. Abandonaram a lenda do lobisomem e adotaram o pobre do coelho e o pior, obrigam o bichinho à por ovos enormes saciando o paladar compulsivo dos mais exigentes... Pobre animalzinho!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 29/03/2013
Reeditado em 29/03/2013
Código do texto: T4213345
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