QUASE UMA DESPEDIDA
QUASE UMA DESPEDIDA
Francisco Obery Rodrigues
Escrevo esta crônica quase como se fora um despedida, não significando, porém, que vou deixar de continuar pondo o cérebro para funcionar, embora observe que ele não tem mais o vigor de alguns anos atrás. Fatores adversos o estão, de certo modo, atrofiando. Primeiro, a idade, já a caminho dos 89 anos. Se Deus me houvesse proporcionado uma velhice sadia e sem preocupações, provavelmente minha capacidade mental de criar e de buscar inspiração para escrever algo cuja leitura pudesse ainda ser interessante aos amigos e amigas que costumam debruçar seus olhos sobre o que escrevo, então eu não estaria redigindo estas linhas. Ainda bem que Deus tem preservado a minha lucidez e não afetou de todo a memória, que sinto não estar mais em toda a sua plenitude. Tenho sérios problemas na vista, que estão me parecendo irreversíveis, justamente pelo desgaste que o tempo tem ocasionado às minhas retinas.
Por gentileza do amigo Prof. Raimundo Antônio de Souza Lopes, que me cedeu temporariamente o seu espaço, estou escrevendo para o jornal mossoroense, “Gazeta do Oeste”, em seu caderno dominical “Expressão”, a história dos precursores da grandeza econômica de Mossoró, em sua quase totalidade homens que vieram de várias cidades, até de outros estados, inclusive alguns estrangeiros. Já estou no quarto capítulo e provavelmente, se Deus me ajudar, concluirei no próximo, o quinto. Depois disso, o espaço voltará a receber a valiosa colaboração do Prof. Raimundo Antônio de Souza Lopes, que já tem numerosos leitores habituais e cativos, entre os quais me incluo, ansiosos por sua volta.
Conforme ressaltei no texto de um deles, tenho encontrado muita dificuldade, pois, embora possua vários livros que tratam do assunto, seus autores são carentes de detalhes importantes, sobretudo datas. Ainda bem que a minha idade me permitiu conhecer pessoalmente alguns deles, os citados nos dois últimos capítulos, o que me possibilita uma avaliação melhor das personalidades destes e de sua atuação.
Desde algum tempo venho procurando inspiração para compor uma nova crônica. Viajo ao passado, mas este já está tão explorado em minhas crônicas anteriores, que, embora ainda me comova, não consigo extrair dele matéria para nova crônica, pois tudo que nele era felicidade e esperança já foi tema muito aproveitado. Ergo os meus olhos, à noite, para um céu povoado de milhões de estrelas, com as quais o poeta Olavo Bilac tinha o privilégio de conversar, mas nada! Em noite de lua cheia, sua beleza me fascina como sempre e contemplo um braço de mar que ainda consigo ver de minha janela e admiro suas águas banhadas pelo luar. Entretanto, esse belíssimo fenômeno que, quando ainda podia ir veranear na minha saudosa praia de Tibau, deitado numa rede armada no alpendre da minha casa, deleitava-me, olhando para o seu imenso lençol banhado com a luz do nosso satélite em todo o seu esplendor, sobretudo ao vê-lo despontar como se emergindo do oceano. A magnificência das auroras os arranha-céus me esconderam. As brincadeiras infantis, as aventuras da mocidade, a poesia das retretas na praça, animadas pela Banda Municipal; as paixões que dominavam o meu coração, tudo que hoje é só recordação e saudade, já falei sobre tudo isso e até cheguei a comover alguns corações sensíveis como a minha prosa pretensamente poética e o meu romantismo, agora não tenho mais como buscar nessas relembranças inspiração para mais uma crônica.
Por isso, meus queridos amigos e amigas – dentre os quais destaco o mestre Raimundo Antônio e outros que não tive ainda o prazer de conhecer, e as queridas amigas Edna Lopes, Ângela Rodrigues – que me distinguiram e me alegraram tanto com suas visitas - Márcia Kaline, Cellyme e Ysolda Cabral. É com tristeza que registro, nesta oportunidade, o silêncio total de Antônia Zilma, que, após a visita que me fez em companhia de Ângela, nunca mais me mandou sequer uma mensagem. Peço-lhe, agora, que se cometi alguma gafe involuntária, ma perdoe, conforme Jesus nos ensinou. Mais pessoas amigas têm emitido pareceres que me alegraram e me sensibilizaram.
Mas, a fonte parece que secou....