JOVEM TEMPO VELHO
Não é apenas através do tempo usado que envelhecemos.
Envelhecemos também quando vivemos daquilo que não somos.
Pois, a palavra da velhice é o desperdício.
Quase não se culpa o tempo quando tudo funciona bem. Quando se deixa o planejado absorver o espontâneo, quando se experimenta os amores à época, quando se habilita viver com sincera liberdade – quando tudo isso: não se lhe frustra a vida, não é velhice ingrata: é a vida, coisa plena, dom puro. Não se culpa o tempo. Afinal, eis a lira da harmonia – vida, tempo; cada galho germinado na estação ideal. Eis o desfecho do soneto, flores assim! Vasos cheios: os erros e os acertos ensaiam comunhão.
Mas, escolher o que não serve de caminho por equivocado destino, parece ser aquela olhada no espelho insidioso: a imagem não melhora, mas alguém insiste no retoque. Quem não sabe que maquilagem nunca serviu para esconder a tristeza de ninguém?
Muita coisa triste nascerá da frustração: o que não ocorreu, o que não era pra ser, o que nem cabia no sonho, os dias acrescentados em vão: dias, estes, que serão contados aos anos: anos, estes, que serão cobrados em desânimo. De cada tempo usado, um não foi vivido: o que resta é a existência. Cadê a vida? O que faltou foi decisão. A alegria multiplica, mas a esperança divide. E não há divisão aproveitável se não for ao coletivo: o indivíduo será sempre uma sobra.
Some isso tudo: a velhice foi desperdiçada.
Topará você com esse contratempo?
Quererei ser velho. Saberei ser velho. Preciso aprender a ser velho.
Traçado o tabuleiro, que venham os dados. Até lá, poderei viver em paz essa minha juventude inteira.