rua Paim

Situada próxima a Rua Augusta e a Avenida 9 de Julho, a Rua Paim foi por décadas considerada uma rua perigosa. O motivo, muito provavelmente, seria a presença de numerosos cortiços localizados em toda sua extensão, além da presença de um conjunto de três edifícios de apartamentos, um deles de nome 14 Bis, alcunhado “treme-treme”, que abrigavam população pobre ou marginalizada.

Alguma pessoa que tenha ficado sem passar pela rua nos últimos cinco anos terá dificuldade reconhecê-la, aquela rua mal iluminada, com lixo mofando nas ruas, de diuturna algazarra, transformou-se em um canteiro de obras.

Morador do bairro, adepto de caminhadas, a Rua Paim é uma velha conhecida de passeios, realizados nas imediações há mais de trinta anos. Dessa forma sou testemunha das transformações ocorridas na rua, as alterações na paisagem ali realizadas.

A construção do Shopping Center Frei Caneca no começo dos anos 2000, situado na rua do mesmo nome, e de que a Rua Paim é uma travessa, veio alterar de forma significativa as redondezas. Com o shopping a Rua Frei Caneca também sofreu alterações. Antigas concessionárias de automóveis que por décadas permaneceram em frente de hoje fica o shopping, cederam lugar a um conjunto de 4 prédios, mix de escritórios e apartamentos, torres de mais de 20 andares.

As modificações na paisagem avançaram em direção á Rua Paim. Estão em construção na rua, em diferentes estágios de edificação, seis edifícios de apartamentos. Para tanto foram destruídos uma quase vintena de casas térreas ou sobrados, que seguindo um padrão comum existente na Bela Vista possuíam poucos metros de frente e muitos de fundo.

Além das residências demolidas todo um pequeno comércio de serviços e miudezas foi arruinado: salão de barbearia, papelaria, açougue, salão de bailes, bares, lanchonetes, salas de dentistas e advogados deixaram de existir.

Há que se registrar o caso curioso de uma pequena farmácia, que pelas sucessivas demolições de casas que ocupou, mudou de endereço três vezes.

Para além da retrospectiva, da elaboração de uma linha do tempo das mudanças da paisagem, as alterações permitem uma reflexão.

A alteração em curso da paisagem pode parecer a olhos menos críticos, uma revitalização do lugar, um “embelezamento” da rua.

Outros mais críticos apontam no caso da Rua Paim, mais um exemplo do processo de gentrification, expulsão dos pobres das áreas centrais das cidades, repetição de um fenômeno verificado primeiramente na Europa, e denunciado por muitos agora na cidade de São Paulo.

Sob qualquer das duas perspectivas é possível entender que o espaço geográfico decorre da relação entre sociedade e natureza. A alteração da paisagem decorre dessa relação, satisfazendo as necessidades, e os desejos, de determinados grupos, detentores de poder de influenciar nesse espaço.