Capítulo 03
CAP 03
Caio estava sentado na cama, velando o sono de Ani, sua filhinha de 4 anos que ele chamava de todos os nomes, menos Ani: princesinha, meu amor, anjinho, etc... Ele era aquele tipo de pai que não conseguia dar uma bronca sequer na filha, todos os “nãos” e todas as recriminações ficavam por conta de Talita, sabia que aquele tipo de criação não era a melhor, mas o que ele podia fazer? Tudo que sua princesinha fazia era correto, era o mais bonito, era tudo. Caio passava a mão pelos cabelos loiros da filha, Será que eles ficarão loiros assim pra sempre? Lembrava de quando era pequeno tinha cabelo loiro e liso até os sete anos, depois ficou castanho claro e encaracolado, mas no fim das contas ele sabia, como todo pai: sua filha podia ficar até careca que seria a maior gata do mundo. Ele a cobriu com mais um cobertor, mesmo sabendo que ela reclamaria no dia seguinte dizendo que estava muito quente e acordou com o calor. Melhor que pegar um resfriado, pensou. Deu um beijo de boa noite e virou-se para sair do quarto.
Talita estava na porta, observando o marido, analisando se ele tomaria conta da filha sozinho, e ela tinha certeza de que ele faria um bom trabalho. Ela o chamou para a cama.
Dizem que quando a morte se aproxima a gente consegue senti-la e talvez Talita, essa noite estivesse sentindo a caveira com a foice espreitando seu sono, as dores no abdômen não paravam e ela não conseguia mais fazer as tarefas diárias de dona de casa. Ela nunca demonstrara fraqueza na frente de Caio, ela sabia que o trabalho do marido não admitia fraqueza e que o que havia entre os dois era amor, não como uma paixão ou uma relação apenas muito boa. Era uma relação primeiramente de amizade, quase que fraternal, o amor era intenso, Caio acreditava, ou melhor, sabia que Talita era sua alma gêmea, o seu Yang, o complemento do seu espírito, talvez por isso, nunca, em 10 anos tiveram uma briga séria. A única discussão que o levou os dois á levantarem a voz foi quando Caio, na hora da inscrição para o concurso da policia civil, decidiu de última hora pelo cargo de investigador e não delegado.
- O que você tava pensando, Caio? – disse Talita quando o resultado saiu.
- Eu preciso do seu apoio – ele respondeu fitando-a nos olhos – eu não consigo fazer isso sozinho.
Ela o abraçou – você sabe que eu te sigo até o inferno – respondeu.
Talita se lembrou do passado. Até o inferno, pensou novamente e enquanto o marido dormia, ela chorou.
E a morte espreitava nessa noite, e por um motivo que nem ela mesmo sabia, resolveu não tirar Talita de Caio enquanto ele dormia, sem que pudesse se despedir.