Certa noite, jogando conversa fora e bebendo alguns refrigerantes, um amigo me narrou uma ocorrência que me deixou impressionado demais.
Pedi licença a ele para dividir a narrativa, pois o fato, conforme vocês logo perceberão, mexeu comigo profundamente.
 
Ele contou que, há cerca de dois meses, experimentou um sonho o qual apresentou uma seqüência tão enigmática quanto fascinante.
Foram oito sonhos, exatamente oito sonhos.
 
No primeiro sonho, havia uma praia maravilhosa com uma paisagem belíssima, as águas não eram agitadas, porém dava para escutar o suave ir e vir das ondas,
O azul do mar, o barulho das ondas e a brisa refrescante facultavam o desejo de permanecer ali indefinidamente.
Reforçando a agradável sensação, saindo das águas, vindo até sua direção, surgiu uma moça.
Não era uma sereia ou um ser sobrenatural.
Era uma mulher de carne e osso, uma linda mulher (levando em consideração o brilho do olhar dele ao recordar os detalhes estéticos, certamente a mais linda de todas), cabelos compridos, uma saia longa que, tentando seguir o ritmo do vento, dançava permitindo visualizar pernas bastante sensuais.
Ela sorria de forma penetrante e deslumbrante.
Aquela visão fez o meu amigo esquecer todo o encanto do local, mas o sonho foi interrompido repentinamente.
Na segunda noite o sonho se repetiu sem que o meu amigo percebesse qualquer mínima alteração.
Mais uma vez, quando a musa saía das águas e vinha até a areia, o sonho acabou, o meu amigo despertou.
Seis noites consecutivas ele não repetiu o sonho. Chegou a imaginar que não mais voltaria a ter aquele sonho.
 
Dormindo sem criar grande expectativa, num dia da semana seguinte, novamente ele voltou a ter o sonho.
Dessa vez a moça conseguia sair do mar, possibilitando que ele percebesse, por exemplo, os seios fartos e convidativos da princesa.
O corpo estonteante dela incendiou a libido do rapaz.
O desejo de tocá-la o dominou completamente.
Ela veio andando até ele, se aproximou provocante e devagar, um beijo parecia que coroaria o instante especial, no entanto, de maneira abrupta, o sonho cessou.
O meu amigo despertou.
 
Ele voltou a ter, nos dias seguintes, o sonho mais cinco noites, contudo um detalhe importante o deixou bem desanimado.
Novamente ele pôde contemplar a paisagem, o mar, quase sentiu as águas, escutou o barulho das ondas pacíficas, entretanto não viu mais a moça.
Ela não aparecia no meio das águas, não surgia vindo até a areia, não caminhava se aproximando dele, pois simplesmente, nessas cinco noites seguintes, a deusa estava ausente.
Havia ansiedade e a vontade imensa de vê-la, de abraçá-la, de efetuar o beijo tentador, todavia restava somente uma enorme frustração.
 
Depois das cinco noites sem a beldade, não houve mais o sonho.
Conversando comigo, o meu amigo já contava mais de um mês sem repetir o sonho.
Primeiro sumiu a sedutora deusa, depois tudo desapareceu nos recônditos secretos das noites agora sem nenhuma recordação ou outros sonhos.
 
O meu amigo concluiu a história demonstrando resignação, acreditando que não mais voltaria a ter o mesmo sonho.
Confessou que estava se sentindo legal após repartir comigo o fato, se despediu, cada um seguiu rumo à sua residência.
 
A minha alma não se afastou daquela narrativa.
Eu fiz uma espécie de viagem percorrendo a fantasia sugerida pelo sonho do meu amigo.
 
Fantasia?
Tamanha magia merece ser considerada fantasiosa?
Estaria toda a trama limitada ao mundo dos sonhos?
Não haveria mais nada?
E a mulher dos três primeiros dias?
Quem seria ela?
Pertenceria exclusivamente a um sonho?
 
Será que o porvir traria a moça para os braços do meu amigo?
Será que um dia eles concretizariam o beijo?
Ou ela só existiu apenas num sonho?
 
No momento em que ela não mais retornou ao sonho, estaria aí um recado de que ele precisa buscá-la acordado?
Será que ele deve encontrá-la, ainda que não seja a mesma moça do sonho, nos romances da denominada vida real?
 
Uma semana depois o encontrei quando ele confirmou que permanece sem repetir o sonho.
Percebi que estava tranqüilo, tocando a sua jornada sem pensar no assunto.
Ele superou o episódio numa boa.
 
O meu amigo esqueceu, porém eu não “desliguei a tomada".
Confuso e inquieto eu quis continuar o sonho no lugar dele, desejei investigar quem era a moça, o que fez ela sumir.
Fiquei muito ansioso por esclarecer o mistério de um sonho o qual nada tem a ver comigo!
Ou existiria um vínculo entre o sonho do meu amigo comigo?
 
Esses pensamentos me levaram a questionar se o meu anseio poderia me conduzir à loucura.
Mas que tipo de loucura?
A loucura que faz a gente mergulhar num sonho o qual desejamos que nunca termine ou a loucura de querer transformar a felicidade de um sonho na nossa realidade?
Ou a solução ideal é misturar os nossos sonhos com o que nós fazemos acordados sem jamais separar as duas coisas?
 
Não sei!
Não sou capaz de responder a perguntas insanas!
Só posso afirmar que seria sensacional o sonho do meu amigo, de alguma forma, retornar!
 
Ah! Eu gostaria muito de que esse sonho voltasse a acontecer!
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 18/03/2013
Reeditado em 18/03/2013
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