A Crônica_O Gênero!
Cronista que também o sou, volta e meia estou retornando a falar sobre esse gênero literário que tenho namorado muito nos últimos anos.
Crônica, esse gênero doce de fazer-se e de ler-se, remonta, como o seu próprio nome diz, ao deus grego Chronos que significa o tempo. Tempo esse que, para a crônica, anda passo a passo, tanto na economia do texto, pequena e de fácil leitura, como ela própria a escolher assuntos do seu tempo atual vivido, ou trazendo tempos passados para os dias atuais. Sempre sendo o tempo, do tempo, pelo tempo, economicamente a encontrar o texto até para dizer sobre grandes histórias do dia-a-dia atual ou passado.
Ninguém é mais fazedor de história do que o cronista que, roubando do tempo suas histórias acesas no cotidiano, apercebe-se e pesca os temas de interesses sociais, sua importância!
Para nós, brasileiros, nossa história meio lusa, meio brasileira, tudo começou com Caminha e sua famosa carta do “Achamento do Brasil”. Antes, nos idos de 1418 – quando o humanismo fazia ninho também em Portugal, o Rei D. Duarte nomeou Fernão Lopes cronista-mor do reino. Estava nascendo o Gênero Crônica na literatura portuguesa. Apesar de não ser uma crônica considerada literariamente brasileira, é sem dúvida literatura sobre o Brasil.
Outros cronistas também descobriram o Brasil como: Pero Lopes de Souza, Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de Souza. Mais tarde chegariam com o padre Manuel de Nóbrega as crônicas dos missionários. Além destes citamos Fernão Cardim e José de Anchieta. Essas crônicas intencionavam dizer da catequese indígena, da sociedade à época, tudo feito sob um fortíssimo viés religioso.
Sabemos das crônicas/textos acerca das coisas do Brasil que antecipavam a Portugal, as notícias do Brasil Colônia, etc. Daí a famosa “Crônica do descobrimento do Brasil”, escrita por Francisco Adolfo Varnhagen, baseada na carta do achamento, também esta achada na torre do Tombo em Lisboa. Esse historiador paulista publicou-a no ano de 1840. Há até quem a tenha recebido como o primeiro romance brasileiro (José Veríssimo_ - Crônica romanceada?! Nessa época, para nós, gemulava a Crônica enquanto literatura brasileira. Sua mistura de gêneros denunciava a imaturidade, própria dos gêneros nascedores. O próprio gênero romance vinha à essa época de misturas e transformações, tentando firmar-se enquanto gênero.
E não nos custa lembrar os folhetins de nossos primeiros jornais, discursando sobre o cotidiano social e até tendo como função primordial expor temas instigantes para servir de chamamento para a venda dos grandes jornais da época. Houve folhetins aqui e fora do país que chegaram a invadir mais da metade das páginas principais dos jornais. Romances foram divulgados em forma de folhetim, capítulo a capítulo. No mar famoso de nossa literatura usaram desse expediente de divulgação literária: José de Alencar, Machado de Assis, etc.
Como se vê, a crônica é um gênero literário respeitável e que vem amadurecendo com o tempo, a que está intimamente relacionada, tanto no seu uso como marco referencial do que trata seu texto, como na mágica arte usada por ela para economizar espaço e, com isso, o tempo de sua leitura.
Confunde-se hoje seus vários tipos: há as jornalísticas que podem ou não ser literárias, quando usam o exclusivismo da transmissão noticial ao invés de preocupar-se com o verniz de literaridade. Poderíamos subclassificar esse gênero maior, segundo os assuntos que encerram em: literárias, esportivas, etc. No fim, cabem todos esses textos no gênero Crônica que nos remete a Chronos, e precisa ser curta e hábil na arte de muito dizer, principalmente da vida social cotidiana, em espaço e tempo pouco consumidos.
Um grande jornal possui grandes cronistas. A responsabilidade maior de quem exerce esse gênero literário é, rearrumando-as, ater-se a cada período cumprido de suas publicações, organizá-las em livros, para se extinguir, desse modo, a efemeridade que haveria, caso elas morressem esquecidas após folheadas e lidas pelos leitores dos jornais.
A crônica, passo a passo, ajunta a história social de um povo. É um documento. Na hora da publicação, apenas informativo, mas, com o tempo, torna-se de grande e notável valor histórico e literário. A Crônica confunde-se com o próprio tempo- o Chronos!