Malandros ou Incompetentes?
Os caras da consultoria em informática que estão implantando o novo sistema aqui na minha empresa convocaram uma reunião urgente hoje. Eles acabam de declarar que o prazo previsto no cronograma inicial do projeto vai ter que ser ampliado em seis meses. A reunião teve muito bate-boca, contestação, pedidos de explicações, explicações razoáveis, explicações capengas, pedidos de desculpas, desculpas aceitas, desculpas inaceitáveis, e resultou em muita gente com aquela expressão facial de torcer o nariz. Evidentemente, ninguém ficou satisfeito com a notícia.
Por que é que todos os projetos demoram mais do que o previsto, custam mais do que o previsto e, ainda por cima, resolvem menos do que o previsto? Dizem que a explicação para isso é que São Murphy está sempre vigilante. Sabe Murphy? O cara da famosa “Lei de Murphy”? Pois é... “Tudo que tiver uma possibilidade, ainda que muito pequena, de dar errado... seguramente VAI dar errado”.
E assim parece ser a evolução de todos os projetos que eu conheço, conheci, participo ou participei. Os problemas são geralmente os mesmos: estimativas erradas, tanto de prazo, como de custo, como de escopo (quer dizer, as coisas que precisam ser feitas). Curiosamente, essas estimativas são sempre mais otimistas do que deveriam ter sido. Na hora de vender o projeto, os caras dizem que o desenvolvimento vai ser rápido, barato e bem feito, mas no decorrer do projeto, fica tudo ao contrário: demorado, caro e mal feito.
Em relação ao prazo, quando se estima desenvolver o projeto em, digamos, dez fases sequenciais de um mês cada, acabam acontecendo atrasos sucessivos e acumulados de pelo menos dez dias em cada fase. Imagine! Um cronograma inicial que previa dez meses de trabalho se transforma em outro de mais de um ano! Já dizem os manuais de gestão de projetos: “Estime o prazo. Agora some 30%. Agora some mais 10%, para garantir.” Esquecer essa regra pode ser ingenuidade. Mas não aplicá-la só pode ser malandragem.
Em relação aos custos, eles só vão aumentando, aumentando, aumentando... até estourar o orçamento. Cada fase do projeto tem os seus produtos a serem entregues. Cada produto a ser entregue tem o seu tanto de trabalho, que, por sua vez, tem o seu custo. Subestimar esse custo não pode nem mesmo ser chamado de ingenuidade, mas sim de incompetência. E informar para a empresa cliente um custo inferior ao que foi estimado de modo realista já se parece muito com a famosa “conversa de vendedor”.
E a qualidade? Bah, nisso nem se fala! Sempre estimam que sabem muito bem de que modo os sistemas precisam ser desenvolvidos, que sabem muito bem do que a empresa precisa. Mas, na verdade, não conhecem tão bem assim nem o sistema, nem as necessidades da empresa. Talvez essa parte do problema não seja devida puramente à malandragem. A estimativa de quantidade de trabalho a ser desenvolvida para os produtos a serem entregues é realmente difícil de medir. Mas desenvolver produtos que não atendem as especificações mínimas solicitadas já é incompetência. E tentar “empurrar” para a empresa cliente produtos nessas condições também já cheira a malandragem.
Das duas, uma: ou as consultorias de projetos são muito incompetentes, ou são muito malandras na hora de vender os projetos. O fato é que as estimativas feitas na fase inicial de planejamento são, frequentemente, erradas. E muito erradas. Resta saber se são assim porque os caras não sabem fazer um planejamento realista, ou porque fazem estimativas exageradamente otimistas intencionalmente, somente para fechar o negócio.
Eu desconfio que a segunda opção é a correta. Mas creio que também pode haver uma terceira: os projetos são assim porque São Murphy está sempre vigilante.